A jornalista Vera Magalhães, de O Globo, analisou os primeiros 30 dias do médico Marcelo Queiroga como ministro da Saúde e chegou a conclusão de que o paraibano é mais do mesmo que ainda não disse a que veio, nem mudou em nada a política antes adotada pelo ex-ministro Eduardo Pazuello, seu antecessor no cargo.
De acordo com a análise feita pela jornalista, até agora, Queiroga ainda não conseguiu fazer nada de concreto para reverter o rumo da péssima resposta à pandemia no país.
Confira abaixo a íntegra da análise:
“Marcelo Queiroga completou um mês à frente do Ministério da Saúde na última sexta-feira. Nos primeiros 30 dias, o ministro não disse a que veio e não mudou em rigorosamente nada a política do antecessor, Eduardo Pazuello, no enfrentamento da pandemia — que, aliás, teve seu mês mais letal.
Vamos lá:
1) Queiroga não reviu o protocolo para o tratamento precoce com uso do kit covid. Antes crítico da prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina, passou a se esquivar de responder sobre o assunto e a dizer que não cabe ao Ministério da Saúde discutir sobre fármacos;
2) Em vez de tornar o cronograma para a chegada de vacinas crível, Queiroga preferiu simplesmente abolir a previsão. Trata-se de medida cautelar à CPI da Covid, que vai certamente investigar a inação do ministério, em vários momentos, para a aquisição de imunizantes;
3) Até hoje não vimos a cor de nenhuma vacina que não seja as duas com as quais temos nos virado, em doses cada vez mais parcas, desde janeiro: a Coronavac, produzida e distribuída pelo Butantan, e a vacina desenvolvida pela AsrtraZeneca e produzida em pequena escala pela Fiocruz;
4) O governo, sob Queiroga, assistiu à produção de factoides com a conivência do Congresso, com a aprovação da compra por empresas de vacinas: até agora não se viu uma mísera dose desses imunizantes, pelo simples fato de que não é assim que a banda toca, e os fabricantes não vão negociar com empresários como Luciano Hang algo que têm tratado com governos e agências sanitárias e de alta complexidade contratual, logística e jurídica;
5) Em sua absoluta falta de coragem para questionar Jair Bolsonaro, Queiroga assiste inerte, conivente, as diárias investidas do presidente contra o necessário distanciamento social (o qual deixou até de defender com ênfase, contrariando sua convicção como médico). Também assiste calado o presidente ameaçar o uso das Forças Armadas contra governadores que tentam fazer o que o governo federal se omite de fazer;
6) Um mês depois, Queiroga ainda estuda uma campanha de comunicação sobre uso de máscara (que seus colegas ministros e seu chefe seguem ignorando, inclusive em almoços como o “costelão” em desagravo a Ricardo Salles), a conduta em transporte público e a necessidade de distanciamento. A ausência de campanhas de conscientização da população é um dos itens do relatório do Tribunal de Contas da União que aponta falhas e omissões do governo federal no trato da pandemia e cuja aprovação foi evitada por pedido de vista de ministros bolsonaristas.
Diante de um mês em que não fez nada para reverter o rumo da nossa péssima resposta à pandemia, Queiroga apela aos Estados para que não judicializem o envio de vacinas, porque senão, diz ele, não vai ser possível organizar a remessa. Seria hilário, se não fosse trágico. O que desorganiza a imunização é justamente a falta de coordenação nacional, de logística, e, principalmente, de vacinas.
Contando com a chegada de lotes que até hoje não desembarcaram, o Ministério da Saúde recomendou Estados e municípios a não reservarem a segunda dose. Agora, com China vacinando em massa seus cidadãos e com o caos na Índia, os dois países mais populosos do mundo, a falta de insumos atrasa nosso já lento acesso a imunizantes. Um mês depois, Queiroga é um novo Pazuello.”