Os números registrados pelo consórcio de veículos de imprensa revelam que a média de mortes provocadas pelo vírus da Covid-19 na Paraíba mais que duplicou em apenas um mês. De acordo com os dados, a situação se refletiu em, pelo menos, 14 Estados brasileiros e no Distrito Federal ao longo dos últimos trinta dias.
Segundo o levantamento feito pelo consórcio, na Paraíba houve um aumento de 188% e a situação da Região Nordeste como um todo chama bastante atenção uma vez que sete dos nove estados duplicaram o registro de óbitos em 30 dias.
De acordo com uma matéria originalmente publicada pelo Estadão, no Rio Grande do Norte, as mortes passaram de 7 por dia para 27, aumento de 282%. Mesmo com o caos, o prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), afrouxou restrições e recomendou terapia sem eficácia, motivo pelo qual ele agora está sendo investigado.
No Ceará, os óbitos foram de 28 para 84 por dia no período, alta de 196%, nas Alagoas (103%), no Maranhão (160%), no Piauí (167%) e em Sergipe a alta contabilizada ultrapassou os 200% (213%). Na Bahia, a alta ficou em 89% e em Pernambuco, 78%, completando a alta em toda a região.
Ainda segundo o consórcio, a média móvel diária de óbitos no Brasil estava em 1.056 no dia 16 de fevereiro e pulou para 2.095 um mês depois, uma alta de 98,4%. No geral, só Amazonas, Roraima (Estados que passaram por picos em janeiro e fevereiro) e o Rio não assistiram a uma alta nos registros ao longo do último mês.
A curva mais vertiginosa está sendo vista no Rio Grande do Sul. Há 30 dias, o Estado relatava média de 41 mortes por dia. Hoje, são mais de 250 vítimas diárias, alta de 500%. No Sul, a alta é acentuada: no Paraná, o aumento é de 322% e em Santa Catarina, de 391%. E há locais com fila de espera por respirador, como no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Bloqueio sanitário rigoroso teria evitado a situação
O epidemiologista da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana vê um efeito preponderante da propagação da variante brasileira, a P.1, para o cenário trágico atual, além da transgressão a medidas já conhecidas, como o isolamento social.
“Infelizmente houve uma falha estrutural da vigilância laboratorial em não identificarmos as variantes de preocupação sanitária, como a da África do Sul, do Reino Unido e especificamente a P1., a pior de todas. Descobrimos tarde e isso deveria ter levado o governo federal a fazer um bloqueio sanitário rigoroso, fechar aeroportos e não deixar o vírus se espalhar. Mas não foi o que aconteceu.”
Agora, nas palavras dele, “o Brasil se transformou em uma grande Manaus”, em referência à crise enfrentada em janeiro pela capital amazonense. Problemas como abastecimento de oxigênio e medicamentos necessários para intubação começam a despontar, aos moldes do que enfrentou a cidade no início do ano, mobilizando o País para reequilibrar a oferta de insumos essenciais para a vida dos pacientes com a doença. Para ele, o chamado “evento sentinela”, acontecimento de maior gravidade a partir do qual outros Estados poderiam tirar lições, não foi aproveitado.