Consultores convidados e equipe da Secretaria de Estado da Cultura estão discutindo até o final desta semana a criação de dois museus em João Pessoa: o Museu da Paraíba e o Museu da Cidade, ambos propostos e já anunciados pelo governador João Azevêdo. Para este trabalho, estão em João Pessoa o curador Marcus Lontra da Costa, de São Paulo, e o artista plástico Raul Córdula, paraibano que reside em Olinda (PE). Eles se juntaram ao também artista plástico Diógenes Chaves e ao historiador Francisco Pereira, que integram a Comissão de Museus criada pela SecultPB.
O grupo vai elaborar documento – que será entregue ao governador João Azevêdo – no qual serão propostos conceito, objetivos e perfis dos museus. Esses fatores é que definirão conteúdo e abordagem de cada um.
Além da criação dos dois novos museus, o Governo do Estado aproveita as discussões para estimular e implantar uma nova visão sobre a museologia paraibana, capaz de estabelecer um modelo de gestão que vai unificar as ações no setor.
“Revolução” – O secretário de Estado da Cultura, Damião Ramos Cavalcanti, acredita que a partir desses dois novos espaços e das discussões que seus projetos provocam “haverá uma revolução na forma de gerir os museus. Nossa museologia terá um avanço enorme”.
O objetivo, segundo ele, é modernizar e requalificar esses espaços, torná-los mais atrativos e facilitar a captação de recursos para investir em cada um dos 57 museus paraibanos filiados ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).
Os novos – O Museu da Cidade ficará num sobrado antigo, na Praça da Independência, onde o então presidente João Pessoa residiu durante alguns meses por causa de reformas no Palácio da Redenção.
O segundo será o próprio Palácio da Redenção, que chegou a servir de residência oficial a governadores e depois passou a ser local de despachos e eventos oficiais, atividades que ocorrem lá ainda hoje.
Espaços vivos – Crítico de arte e curador independente, o consultor Marcus Lontra considera que a ideia do Governo da Paraíba de sistematizar seus museus numa rede, e ainda criar o Museu do Estado e o Museu da Cidade de João Pessoa, revela uma visão importante e contemporânea da ação cultural como exemplo de consciência de cidadania e ação pedagógica.
“Registro a satisfação de estar aqui e de verificar a importância desse trabalho. Cumprimento o governador João Azevêdo por essa decisão. A cultura é um instrumento fundamental de cidadania e a implantação do Museu do Estado e do Museu da Cidade ilustram esse cuidado”, disse.
O artista Raul Córdula afirmou que o fator mais relevante do trabalho proposto pelo Governo da Paraíba nesse setor é o de oferecer museus atualizados na história e sobre sua própria atuação junto ao povo.
“Os projetos são fundamentais no momento em que levantam a consciência da necessidade de museus atualizados do ponto de vista da história, mas também da atuação desse espaço, do trabalho em relação à população”, comentou.
Diógenes Chaves defendeu a ideia de modernização dos museus, de maneira a torná-los atraente ao público em geral. Ele acha que a tecnologia da informação é uma parceira fundamental nesse projeto de requalificação dos museus estaduais.
Da Comissão de Museus, Francisco Pereira, sugeriu conteúdos que podem ser trabalhados pelo museu do Palácio da Redenção: “A história da Paraíba no período colonial precisa ser contada em detalhes e nós teremos agora essa chance com um museu que enfocará a história política, econômica e cultural do nosso povo”.
Um momento crucial desse período marca, segundo ele, a sofrida campanha holandesa para penetrar a Paraíba: “Os holandeses dominaram parte do Nordeste em pouco tempo, mas levaram dez anos para chegar aqui com algum sucesso. Isso se deu por causa da conhecida fúria dos nossos índios e das características geográficas do Rio Paraíba, que impunha dificuldades extremas aos invasores. Há tantos detalhes fundamentais da história, da nossa paraibanidade, que precisam ser recontados e mantidos vivos para conhecimento das gerações”.
Projetos físicos – Na primeira reunião da comissão, realizada na terça-feira (19), num dos salões do Palácio da Redenção, a diretora executiva do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep), Tânia Maria Queiroga Nóbrega, informou que os projetos físicos para adaptação do Palácio já foram elaborados e encaminhados para orçamento.
Ela ressaltou que, como prédio tombado pelo Patrimônio Histórico, o Palácio da Redenção é intocável em sua estrutura. As obras que transformarão o espaço em Museu da Paraíba estão mais direcionadas à preservação do próprio prédio e do conteúdo histórico que ele abrigará, questões de acessibilidade (deverá ganhar elevadores, por exemplo) e correções em intervenções anteriores, sobretudo no pátio externo e no interno (este último hoje ocupado por motores do sistema de refrigeração).
Depois da primeira reunião no Palácio, a comissão esteve com o secretário-chefe de Gabinete do Governo, Ronaldo Guerra, e seguiu para o Museu da Cidade, na Praça da Independência, cujas sobras devem estar finalizadas no final deste mês, como prevê o engenheiro André Santora, da Superintendência do Plano de Obras do Governo do Estado (Suplan) e fiscal deste trabalho.
Elementos históricos – O Palácio da Redenção é um prédio de 1584, portanto uma das mais antigas edificações brasileiras. Foi instalado sobre o antigo conjunto jesuítico. O tombamento pelo Iphaep ocorreu em 1980.
Já o sobrado que vai abrigar o Museu da Cidade, data de 1924 – completará um século daqui a três anos – e a qualidade da construção explica as boas condições em que está a maior parte dos seus elementos, a exemplo do ladrilho de ipê e angelim, com um século de existência e para o qual bastou uma sessão de lixamento para reaver o aspecto de novo.