O município de João Pessoa entrou na lista de cidades inseridas em um estudo que comprova que a taxa de letalidade por Covid-19 em doentes reumáticos superou a taxa no Brasil como um todo. A informação foi divulgada nesta terça-feira (24), no site da Folha.
De acordo com a matéria publicada, o estudo foi feito pela Sociedade Brasileira de Reumatologia e a constatação veio de uma análise de dados preliminares relacionados a 338 pacientes reumáticos infectados pelo novo coronavírus, de ambos os sexos, com idades entre 31 e 57 anos —81,4% eram mulheres— de João Pessoa (PB), Recife (PE), São Paulo, Campinas (SP), Manaus (AM), Rio Branco (AC), , Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte, Juiz de Fora (MG), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Fortaleza (CE) e Brasília.
A coleta de informações da primeira fase do levantamento ocorreu entre 20 de maio e 24 de julho de 2020. A pesquisa, que contempla 1.200 pacientes no total, levou seis meses para ser feita, mas atualmente a entidade possui apenas a análise das oito primeiras semanas.
Cláudia Marques, coordenadora nacional do estudo, professora de reumatologia da Universidade Federal de Pernambuco e gerente de ensino e pesquisa do Hospital das Clínicas da instituição, explica que, quando fez a comparação, a taxa de letalidade por Covid-19 em reumáticos estava em 5,8%, contra 3% no país. “Em relação à morte, estão associados o uso do corticoide e da ciclofosfamida (indicado para tratar doenças reumáticas) venosa”, diz.
Segundo Marques, a ideia quando a pandemia começou era de que os pacientes com doenças reumáticas teriam uma evolução em relação à Covid-19 muito parecida com a da população em geral, e o agravamento da doença dependeria de outras comorbidades.
Dos pacientes, 121 (35,8%) relataram hipertensão arterial, 39 (11,5%) diabetes e 53 (15,7%) obesidade —14 (4,4%) afirmaram que são fumantes.
“A análise das oito primeiras semanas de estudo mostrou que não é bem assim. Os pacientes com doenças reumáticas, de uma maneira geral, não têm evolução mais grave, mas aqueles que tomam remédios que baixam muito a imunidade, como imunossupressores e os corticoides em doses um pouco mais altas, apresentam desfechos piores.”
“Eles têm maior frequência de admissão na UTI, entubação e internação, além da morte. São dados que nos alertam para um cuidado maior com os pacientes imunossuprimidos em relação à infecção pelo Sars-CoV-2”, afirma a médica.
Em relação ao diagnóstico de doenças reumáticas, o lúpus e a artrite reumatoide foram as mais frequentes, citadas por 111 (32,9%) e 96 (28,4%), respectivamente.
O levantamento aponta que houve necessidade de atendimento de 160 pacientes (48%); desses, 110 (68,7%) foram internados, 50 (31,2%) necessitaram de UTI, 35 (21,8%) foram submetidos à ventilação mecânica e 28 (17,5%) morreram.
Dos mortos, 24 (85,7%) eram mulheres com idade média de 53 anos, 11 estavam com lúpus, 4 tinham artrite reumatoide, 2 espondiloartrite, 5 esclerose sistêmica e 6 sofriam de outras doenças. Em relação a medicamentos, sabe-se que 5 (17,9%) usavam metilprednisolona e outros 5 (17,9%), ciclofosfamida.
Embora o risco de agravamento da Covid-19 aumente com o imunossupressor mais potente, o estudo mostra que os imunobiológicos da classe anti-TNF (fator de necrose tumoral) protegem contra um quadro mais grave da infecção.
Marques alerta que é importante seguir o protocolo de segurança contra a infecção pelo novo coronavírus. A pesquisa mostrou que apenas 202 (60%) dos pacientes respeitaram o distanciamento físico e uso de máscaras.
“É possível que o número de doentes tenha sido muito mais pela falta de cuidados do que pelo tratamento propriamente dito”, ressalta.
Dos pacientes, 159 (47%) relataram contato próximo com caso confirmado de Covid-19, sendo 104 (30,8%) dos eventos ocorridos em casa.
Quanto à vida profissional, o estudou apontou que 186 (55%) estavam ativos no momento da infecção pelo novo coronavírus 126 (37,3%) referiram profissão com contato direto com o público (atendimento, saúde, segurança e educação). Entre os inativos, 233 (69%) eram aposentados ou afastados do trabalho pela doença reumática.
Os sintomas de Covid-19 mais citados pelos pesquisados foram cefaleia, tosse e febre (51,2%), por 196 (58%), 191 (56,5%) e 173 (51,2%), respectivamente.
Dos 338, 12 pacientes eram assintomáticos e tiveram RT-PCR positivo para o novo coronavírus. A duração média dos sintomas foi de 16 dias e 102 (30,2%) disseram que ainda apresentavam sinais da doença no início do estudo.
Todos os incluídos no levantamento eram casos confirmados de Covid-19 segundo critério do Ministério da Saúde e a maioria (76,8%) foi diagnosticada através de exame laboratorial.