A decisão do PT nacional de intervir na eleição à Prefeitura de João Pessoa e determinar ontem a retirada da candidatura do petista Anísio Maia para apoiar o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) gerou contestações não só do PT local, mas também do PSB nacional.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, rejeitou nesta sexta-feira o apoio do PT na capital paraibana e descartou a possibilidade de os dois partidos estarem juntos para disputar a eleição presidencial de 2022.
“Não pedimos o apoio do PT. Se o PT deu com a intenção de uma aliança em 2022, que retire esse apoio e respeite a decisão do diretório municipal petista”, afirmou o presidente nacional do PSB ao Valor. Siqueira disse que o PSB “não precisa do PT” nestas eleições.
Ontem, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), anunciou a intervenção no diretório petista de João Pessoa, que horas antes havia oficializado a candidatura do deputado estadual Anísio Maia durante convenção municipal, na noite de quarta-feira, informa reportagem do Valor Econômico.
Gleisi afirmou que o partido deveria apoiar Ricardo Coutinho por conta da relevância dele “no processo político local e nacional” e para construir “um bloco que proporcione a unidade da esquerda”. Segundo o PT, a aliança com o candidato do PSB poderá ajudar na construção de uma frente de esquerda contra o presidente Jair Bolsonaro.
“A aliança para a disputa eleitoral de 2020 retoma a unidade programática no campo das esquerdas e a disposição de reconstruirmos a democracia brasileira, sob ataque do governo Bolsonaro, num compromisso que tem como referência os interesses populares”, disse Gleisi, em nota.
O presidente nacional do PSB criticou a dirigente petista e reforçou que “rechaça 100%” o apoio do PT.
“É uma violência do PT tirar a candidatura para apoiar Coutinho com vistas a 2022. Se for assim, que o PT retire esse apoio”, afirmou Siqueira.
O dirigente do PSB disse ter ficado “estressado” com as declarações de Gleisi, que poderiam sinalizar um eventual acordo em 2022. “É impertinente. O PT já rompeu com o PSB nestas eleições, ao impor candidaturas. Rompeu desde que Lula saiu da cadeia e disse que o PT teria candidaturas em todas as capitais. O PT não quer o apoio de ninguém e não quer apoiar ninguém”, reclamou Siqueira. “Não nos interessa esse apoio. Que retire”, reiterou.
Siqueira classificou o PT como incoerente ao rejeitar uma aliança com o PSB em Recife e, ao mesmo tempo, intervir para impor um acordo com o partido em João Pessoa. No Recife, os diretórios municipal e estadual petistas queriam apoiar a candidatura de João Campos (PSB), mas o comando nacional do PT decidiu pela candidatura própria, com a petista Marília Arraes.
A intervenção do PT nacional gerou forte descontentamento também no diretório petista de João Pessoa, que decidiu manter a candidatura de Anísio Maia. Ontem, o diretório registrou na Justiça Eleitoral a candidatura e promete levar o embate à Justiça, contra a decisão do diretório nacional. A chapa petista tem um nome do PCdoB, Percival Henriques, como vice.
Como demonstração de que não pretende desistir, Anísio Maia participou ontem de debate com os candidatos à Prefeitura de João Pessoa, promovido pela TV Arapuan Rede TV, e hoje tem agenda de campanha. Em nota, o candidato afirmou que resistirá.
“Não aceitamos um candidato que foi imposto, um candidato dele mesmo, através de uma candidatura que foi feita nas sombras. Nós aceitaríamos se juntassem os três diretórios para trocar ideias e propostas, mas dessa forma não nos submeteremos”, disse Maia.