O mundo empresarial da Indústria 4.0 vem promovendo um impacto tão forte que esse movimento foi denominado como a “Quarta Revolução Industrial” impactando na gestão, que acabou sendo denominada de Gestão 4.0. Na primeira revolução que ocorreu no século XVIII, tivemos o advento das máquinas a vapor e do uso do carvão como combustível. Na segunda Revolução, que ocorreu na segunda metade do século XIX, a eletricidade foi a grande invenção, também causando uma grande transformação nos modos de produção. A terceira Revolução, que ocorreu em meados do século XX, trouxe a automação das máquinas, o uso dos computadores, a internet e um prenúncio do que estava por vir: a “Quarta Revoluçã o Indust rial” que ocorreu na virada deste século, a digitalização e o mundo virtual, que estão colocando a humanidade em outro patamar de interação e desenvolvimento, pois as próprias máquinas poderão decidir a hora de aumentar ou reduzir a produção, de ligar ou desligar, ainda será possível aumentar o uso da capacidade, racionalizar a produção e reduzir o consumo de energia elétrica.
A partir da digitalização, toda a fábrica estará conectada, desde a produção até o sistema de logística e os departamentos de marketing e vendas. Não será mais necessário fazer uma programação, pois as próprias máquinas tomarão as decisões sobre qual melhor caminho a seguir. Máquinas conversarão com máquinas, com peças, com ferramentas e com seres humanos.
Ao longo dos anos, a tecnologia permitiu às empresas que passassem de produtoras para prestadoras de serviços, e a possibilidade de ocupar espaços de mercado, criar mercados inexistentes, empresas de serviços surgiram para mostrar que há formas diferentes de ver as cadeias de valor, empresas que destruíram as cadeias de valor existentes e construíram novas, exemplos clássicos são o UBER e Airbnb.
Dentro desta dinâmica de rápidas transformações, há resistências de alguns profissionais que foram afetados diretamente por estas novas tecnologias, porém, apesar da resistência deles e algumas vezes da sociedade, devido a interesses de minorias, as empresas continuam inovando e quebrando paradigmas, como é o caso do UBER que já opera carros autônomos na capital dos EUA, assim como a startup ARGO, apoiada pela Wolkswagen e Ford que faz testes desde 2018. Elon Musk, CEO da TESLA, afirmou, durante a abertura da Conferência Mundial de Inteligência Artificial (WAIC), em Shanghai na China, que também está muito próximo de produzir carros completamente autônomos, nível 5 FSD (Full Self Driven).
Outros setores como o agrícola, que robotizam suas linhas de produção, aumentam a oferta de serviços online e respondem a cada demanda com inteligência artificial, como na pecuária que por meio de inseminação artificial aceleraram o ganho genético de bovinos.
O setor de Turismo e Transporte Aéreo estão atentos às mudanças tecnológicas e investem em novas experiências de consumo, é o caso da empresa AZUL que investe em uma startup no vale do Silício para enviar óculos de realidade aumentada para seus clientes conhecerem lugares que pretendiam conhecer presencialmente.
O setor de Esporte tem vários exemplos, um deles é o óculos de natação inteligente, desenvolvido pela FORM, o dispositivo permite que atletas visualizem métricas de desempenho em realidade aumentada enquanto se movimentam na água. Enfim, a tecnologia avançou e alcançou todos os setores.
Para o consumidor, o principal impacto dessa revolução tecnológica é a personalização dos produtos. Isso porque as máquinas receberão diretamente os pedidos ou as informações de comportamento do cliente e oferecerão o que ele quer.
Diante deste cenário tecnológico, virtual, de inteligência artificial, como fica a profissão de administrador? Não haverá mais o gestor dentro deste contexto da Revolução 4.0, considerando que boa parte da tomada de decisão será realizada por algoritmos?
Esse é ponto crucial para estes profissionais, a necessidade de desenvolver novas competências e habilidades em um cenário que permitiu e tem permitido uma transformação ainda maior nas formas de dirigir as empresas, na competitividade dessas empresas no mercado e que inevitavelmente passa por mudanças no tipo de profissional necessário para fazer parte desse momento, portanto, o ponto principal é a mudança de papel do administrador e do tipo de tarefas que irá exercer.
Isso exigirá competências tais como: capacidade analítica e entender como as máquinas funcionam ou “pensam”. Sem esses dois pontos fica difícil participar desse Universo 4.0.
Nesse cenário de mudança, o papel do gestor terá que ser ressignificado, reciclado, reinventado, para que novas práticas e processos sejam implantados.
Outro aspecto que os administradores da Gestão 4.0 não podem esquecer são os aspectos humanos das organizações. Muitas empresas globais enfrentam o dilema de destruir cidades inteiras ao robotizar suas linhas de produção. Criar estratégias para preparar os funcionários para essas transformações precisa fazer parte do trabalho dos líderes.
Deduz-se que diante da complexidade da tomada de decisão pelo gestor, a competência necessária passará pelo entendimento do algoritmo. Isso implica numa ampliação do conteúdo para campos de conhecimento que não existiam há anos atrás: IA, Machine Learning e algoritmos, para citar alguns, e a pensar em formas criativas de tornar negócios viáveis em um mundo onde a produção ocorre em esteiras inteiramente automatizadas e o que se entrega realmente são os serviços agregados.
Além de conhecimentos técnicos, saber compartilhar e viver em comunidades de aprendizado-ensino online (life long learning), ser empreendedor e resiliente, competências cada vez mais necessárias à Gestão 4.0.
Vanessa Estela Kotovicz Rolon é doutora em Administração e coordenadora do curso de Administração do Centro Universitário Internacional Uninter.