A professora Bernardina Maria Juvenal Freire de Oliveira, atual vice-reitora da UFPB que, com bom humor, competência, esplêndida oratória e forte interação com os internautas, presenteou o público com uma excelente conferência. O tema, somado ao carisma, simplicidade e sabedoria da palestrante, atraiu um público online expressivo, dividido entre aquele total suportado pela plataforma, 75, além dos mais de 1.200 acessos obtidos através do link de transmissão da sala pelo canal da Rede Nacional de Pesquisa (RNP). Alunos e professores da UFPB e de outras instituições, e até mesmo de outros países, puderam assistir e comunicar com a palestrante. Participaram também da conferência o atual diretor do CCA, Manoel Bandeira de Albuquerque, e o vice-diretor, Ricardo Romão Guerra.
Bernardina fez um apanhado histórico de como os mexericos, invencionices, as “fofoquinhas” e “mentirinhas” converteram-se em estratégias demolidoras ao longo dos séculos, até revestirem-se de fortes armaduras e modernos aparatos, chegando a ser Fake News.
Destacou que a diferença das Fakes News daqueles tempos em comparação às do presente, é, tão somente, a velocidade, que caracterizou como “…um rastilho de pólvora”, explicada, é claro, pela capacidade de disseminação avassaladora das redes sociais, da evolução da imprensa e das demais tecnologias da comunicação e informação. Lembrou o caso de Anaíde Beiriz e João Dantas no Estado da Paraíba, em meados dos anos de 1930, e a distorção feita na fala do atual secretário de saúde da Paraíba quanto à Covid-19, um exemplo do bombardeio de Fake News, no caso da Covid, podendo trazer risco à vida de inúmeras pessoas.
Trazendo o estudioso Edgar Morin, autor de obras como Os sete saberes necessários à educação do futuro e destacando os inscritos deste autor quanto à discussão entre informação forte e fraca, Bernardina frisou que a Fake News é “impiedosa”. E então estabeleceu um primeiro link entre Fake News e Memória: a enxurrada de informações gera prejuízos às nossas memórias, na medida em que temos tanto a responder, ver dos outros, que nos perdemos, somos vários, como se tivéssemos múltiplas identidades. E continuou: “Absorvemos as informações chanceladas por outros”, sem checarmos as fontes, colocando Bourdieu em cena, ou seja, argumentando que é preciso desconfiar sempre das fontes, como nos aconselha Bourdieu.
Durante sua fala a professora Bernardina interagiu com o público no chat e apresentou vários exemplos de Fake News nos tempos atuais, das recentes eleições americanas à Covid-19, e de como cada vez mais ela tem sido usada na política, para manter o controle político, e em outras esferas da vida cotidiana. Salientou que “Mudam-se os rótulos, mas as práticas estão muito caracterizadas”, referindo-se ao termo pós-verdade. A partir desse momento, a complexidade do tema foi percebida.
Bernardina disse que os usuários do mundo digital estão cada vez mais intoxicados, em consequência da tempestade de informações falsas, que têm uma característica peculiar: mexer diretamente com a sensibilidade das pessoas, seduzi-las, no sentido de que toda Fake é intencional, com objetivos de controlar, mobilizar, desmobilizar e enganar.
Continuou a conversa conectando civilização do espetáculo à Fake news. Segundo a palestrante, tal sociedade potencializa a difusão das Fakes, de modo que as mentiras espalham-se tão velozmente, deixando um rastro de destruição. As pessoas, nesta sociedade do espetáculo, vivem em uma ilusão, seduzidas, controladas, repassando mentiras, destituindo-se de suas identidades, o que tem gerado uma ignorância deliberada, prejudicando a memória de uma civilização, como apontam os estudos agnotológicos, pontuou Bernardina. Lembrou dos estudos de Habermas relacionados ao que é verdade. Conceituando pós-verdade, que seria “… uma fronteira entre mentira e verdade […]”, disse que a FaKe News é uma moeda de troca, valiosa, como se percebe. Nesse contexto, tudo está bastante interligado: pós-verdade, tecnologias, grandes potências, democracia.
No percurso ao término de sua fala, retomou a relação Fake News e Memória, ao dizer que as pessoas estão narrando histórias, e o perigo que se tem é que memórias e recordações saudáveis, podem ser substituídas por aquelas memórias traumáticas. Traumáticas pelas narrativas controversas, desvirtuadas, pois as Fakes News afetam a nossa boa fé, nossa honra, nossa carreira, nossa identidade, fio enfática. Para pensar, mais uma vez, Bernardina inquiriu: “Seria a memória pós-memória?”. Isto é, seríamos uma sociedade a construir suas memórias sobre inverdades, gerando pseudomemórias? Para que isso seja combatido, a palestrante forneceu soluções responsáveis: investigar a origem da informação; pesquisar notas raras sobre os fatos; procurar um (a) bibliotecário (a); grandes institutos de pesquisa; desconfiar sempre, fontes renomadas.
A professora encerrou respondendo perguntas encaminhadas no momento final pelos internautas quanto a “Que público seria mais vulnerável às Fakes News?”, Bernardina disse que qualquer que seja o público, ele será frágil a esta antiga e moderna moeda de troca.
Deixou algumas referências para pesquisa que estão disponíveis no nosso site, concluiu definitivamente sua participação, lendo o poema Poesia em tempo de quarentena, comovendo os ouvintes.
Por fim, os mediadores, Juccia Nathielle e Edilson Targino, encerraram a conferência agradecendo à professora Bernardina pelas palavras e também a todos e todas que participaram, convidando para as próximas conferências do #ColetivoDeSaberes no dia 26 de maio, sobre Como desenvolver um artigo de alto impacto com a professora Vanessa Alves e no dia 29 de maio, sobre marcas de proveniência com o professor Fabiano Cataldo (UNIRIO).