Chegou à exaustão em janeiro deste ano a Era Petista de Governo, iniciada por Lula em 2002 e concluída pelo vice preferencial dele, Michel Temer, no primeiro dia de 2019. Foram 16 anos de calamidade moral assombrosa para ninguém nunca jamais esquecer.
Inesquecível foi também a fúria coletiva que varreu o lulopetismo do poder e transformou seu líder icônico em objeto da ira do povo, que parece até hoje só aumentar – e é provável que dure para sempre porque resulta de ofensas graves à ética e à moralidade do grosso da sociedade.
Foi tal a revolta social e o clamor público por mudanças que bastaram poucas palavras de ordem, sem conteúdo programático e doutrinário, para por em marcha um exército nacional de revoltosos contraposto às milícias políticas intelectualizadas, ainda fortemente apoiadas nas mídias decadentes e em todos os demais líderes que foram sendo devastados pela onda tsunâmicas reformista.
Uma eleição única arrastou ao lixo da história toda a vetusta elite da Nova República ( que não teve tempo de ficar velha porque morreu de podre antes, precocimente ), findando a Era macabra de Sarney a Temer, passando por Collor e Lula, enquanto se uniam todos para assaltar o país e fugir das culpas e da vingança do povo.
Dramático é que essa elite foi formada para livrar o povo do autoritarismo e para restabelecer as liberdades públicas, e até dotou a Nação de uma constituição moderna, redentorista, que, contudo, não protegeu o Estado da sanha criminosa dos que a fizeram : os políticos.
O regime de liberdades plenas da Constituição de 88, após o período militar de 21 anos de obscurantismo, criou uma democracia viçosa e pujante, e formou novas lideranças em âmbito político, sindical e social, mas ninguém que,poucos anos depois, consiga passar pela estreita peneira da República de Curitiba – o tribunal de honra do Brasil. É uma tragédia monumental contra os marcos civilizatórios do mundão.
Mas a tragédia ainda não está de todo debelada. A eleição de 2018 virou movimento permanente de massa. É inspirado no dogmatismo investigativo-punitivo da Lava-Jato de Moro e no discurso político-anti-politico de Bolsonaro, sem conteúdo pratico e de viés empírico mas destituído de talento resolutivo.
Bolsonaro sucumbe a olhos vistos, vítima do triunvirato familiar e de um despreparo sem precedentes na história presidencial brasileira. É claramente inapetente para governar, mas sobrevive porque o ódio ao lulopetismo o imuniza no imaginário coletivo, que tem medo do fracasso e da volta das aves de rapina. Mas é improvável que haja a volta no correr dos novos tempos.
O bolsonarismo, sim, é capaz e já possui elementos formadores de uma doutrina política baseada em fundamentos morais , éticos e dos costumes. Além do mais, está servido de uma poderosa rede de comunicação instantânea que , em minutos, chega ao povo em todo o território nacional, provido de linguagem homogênea e foco. É demolidor.
O itinerário do bolsonarismo leva a algo acima do próprio Bolsonaro : um governo de inspiração militarista com sustentação eleitoral, fortemente apoiado por líderes militares mais capazes do que o presidente e algumas de suas mulas desadestradas. A classe política se prepara para ajoelhar o governante mitológico sem cérebro, a fim de reinar em confraria espúria como outrora, mas o bolsonarismo pode marchar sobre ela e destroçá-la , com ou sem Bolsonaro. Os tempos são turvos. Só os políticos não querem deixar de sê-lo.