Renato Martins
Primeiro, registro que o título não tem nada de exagerado, como veremos. Não foi feito para “causar impressão” de forma alguma. Nos corredores da gestão girassol, antes da descoberta da possível condição de ORCRIM, o apelido “Dama de Ferro” era comum de ser ouvido sobre a senhora hoje presa por dois mandados. Dama de Ferro é um termo advindo do forte período, de fins de guerra fria, e se referia a líder da Inglaterra Margaret Thacther, a mulher mais poderosa do mundo industrial. Onde sem usar o charme como Cleópatra, sem subterfúgios, impôs sua marca de fortes princípios liberais e certa intransigência na condução do choque político e econômico que engendrou em sua gestão. Sendo que, em termos de debate de princípios, não cabe essa analogia entre a inglesa e a sousense, trata-se só de comparação de poder acumulado em seu tempo. Poder real, com cada uma em seu quadrado.
No Brasil, temos como última mulher protagonista na macro-gestão nacional, a figura da Zélia Cardoso de Melo, ministra da fazenda, que não se sabe se tinha ou não conluio com o esquema PC/Collor, mas que comandou radicais tentativas de abrir a economia, qualificar a indústria e a competitividade e inibir a inflação de Sarney, com choques literais mesmo na população. Ah! Alguém pode lembrar de Dilma, sim, é legitimo a lembrança, mas nem vejo nela predicados de boa gestora, como também não vejo em Livânia, mas a questão é que nem de perto acho que Dilma tinha poder real sobre o Brasil como Livânia tinha e tem sobre o todo da economia e das políticas públicas paraibanas. Talvez outras semelhanças venham a florescer com o tempo, mas, no momento, considerando poder no sentido Nietzscheano do termo, de realização sobre seu entorno com sua própria ética e estilística, esse poder intrínseco há uma existência que pode por si mesma moldar esteticamente o seu redor inteiro. Incluindo se sobrepor a moral de sua sociedade. Poder pleno de “criança” o tempo inteiro. Esse poder essência, Livânia tinha mais. Muito mais que todas as mulheres do Brasil, arrisco a dizer. Emancipação para si, e em algum nível para os seus, de uma forma quase que do tipo “pensou-fez”. A corrupção contumaz que permite esse tipo de poder, também comprova diferenças, afinal, Dilma está solta, ainda, a outra, super-poderosa de fato; não.
Alias, super-poderosa era outro apelido dado a ela, esse menos recorrente, mais ligado ao desenho animado com umas meninas assim denominadas, e menos do feitio dos cardeais girassóis, seus capas da cúpula, esse apelido era mais do paladar do baixo staff. Talvez, tratados como incultos e infantis no esnobismo pseudo-intelectual das rodas de vinhos (com caixas?) do Comintern girassólaico: “Uns Leandros da vida”, deviam apelidar eles, os membros da casta abaixo.
Mas eis que surge uma questão que lhes responderei: Livânia está mais poderosa na cadeia do que fora dela?
Respondo sem titubear. Sim, ela está ainda mais poderosa agora, no sentido do poder real de afetar negativamente seus “iguais”, coisa que ela antes não tinha. Não falo mais do caráter metafísico do poder para si, que assinalei antes. Agora ela desfruta de um outro tipo de capacidade, de fazer e realizar algo de sua lavra individual – poder afetar seus parceiros iguais, sendo ela numa condição superior. Este afrodisíaco, viciante e desejado adjetivo de poderosa, ela o tem agora, ainda, em grande monta, nos termos da capacidade que ela tem de tirar o sono de muitos, de sentir que dela, da subjetividade dela, todo um divisor de águas poderá mudar em definitivo a história de seu estado. Com seu nome. Antes, o altar da história poderia ficar só para o chefe Ricardo, algo do tipo: o homem trismegisto – trabalho (imposto), propaganda falsa e corrupção.
Porém tudo mudou. Agora poderá ser; Livânia e a verdade do mecanismo revelada… Sim, será o nome dela nos livros de história. Isso não é pouca coisa. Ela nem de perto seria lembrada em canto algum no ritmo como as coisas iam. Além disso, nestes tempos de limpeza na política e polarização direita esquerda, sua opção terá efeitos nacionais significativos. Todo um modus operandi, todo um modelo de GOVERNANÇA sofisticado feito para desviar, iludir e depois ser apagado com cooptação e propaganda, com também, talvez, suporte interinstitucional. Livânia pode falar do setor empresarial cretino, Livânia pode falar de como se pode enganar tanta gente tão bem, tão eficazmente e por tanto tempo, ela, a dama de ferro tem a possibilidade de mostrar um jeito único de aparelhismo estatal conduzido por ela, seus chefes e parceiros numa dimensão mecânica que nem a lava-jato, tão disforme e gigante, mostrou ao povo brasileiro. Puro marco na ciência política nacional, pode ser sua contribuição. Ou seja, em outros termos, Livânia tem o poder de nos dar a visualização mental, o desenho, o framework com os fatos empíricos, com o qual se faz a subversão da democracia por meio do falso discurso igualitarista do dito socialismo girassol. E sem armas (ou as usando apenas seletivamente). Algo mais contemporâneo do conceito do rouba mas faz, da imoral tradição política paulista.
O dilema é que o forte poder que está a cada milisegundo na mente dela é espantosamente concentrado. Ela sabe que nenhuma cidade deste estado, instituição, nenhum restaurante de luxo, shoppings e etc… Absolutamente nada será o mesmo depois de sua fala. Mulher corajosa que aprendeu a ter bom gosto ao preço que fosse. Conhecedora de todo o planeta. Com amigos empresários na China, Paris, Miami e Portugal. Todos os continentes couberam em suas peripécias de sonho-real e real-sonho. E aqui não falo do “real” dinheiro, falo da filosofia do fazer o que se pensar em fazer, da existência realizada mesmo, e não pela metade como a maioria dos humanos-imperfeitos e limitados a saboreiam no que lhe sobra da vida. No entanto, observem como ela tem pouco tempo com este novo tipo de poder de afetação.
A TRAGÉDIA DE DESCOBRIR QUE O CÉU NÃO É O LIMITE: um Daniel Gomes preso, no agora tão distante e distópico Rio de Janeiro, existe na sua mente como uma arma apontada para sua testa o tempo inteiro. Lá ela sabe que não se sustenta seus sonhos, sim, agora nesta nova natureza e camada de poder que possui, ela só sonha, ela recuperou a capacidade de sonhar, tão comum e até desvalorizada por nós. Os que tem sede de justiça e de bons e modernos serviços públicos. Ela, para sua sorte, não tem ideologia, isso nunca a moveu, trata-se de um perfeito exemplar da pós-modernidade, da ideia de sociedade líquida, do analista deste tema, Zigmunt Bauman, que fala de um tipo de viver, que vive para sentir, e viver mais é ter mais sensações por sentir, e sentir é ter, é também comprar, é obter. Existir é um suceder de boas sensações tentando anular as ruins, desprovidos de propósitos universais – filosofia que é a cara da Livânia. Agora, a mesma, tem-se que retornar aos gregos platônicos ou os desapegados cristãos da escolástica, para sonhar com certa fé, para que tudo passe em branco, e impune, ela seja liberada, e livre, sob um julgamento moroso que lhe permita exílio luxuoso distante desta terra, neste instante tão rude, real e de gente “atrasada” e, claro, protegida por todos que poderiam ela arrastar, sobremodo seu herói/algoz (outro dilema freudiano que ela tende a ter sobre a figura quase ‘paterna’ de rc nesta hora: um pai ser humano devoraria seus filhos?).
Mas como eu disse no título, o limite que ela tem, não é o do céu. Não obstante, uma das poucas coisas mundanas que ela não adquiriu, foi cultura literária livresca, ela não leu um Dostoievski, não tem a companhia da profunda reflexão e emancipação que a culpa pode proporcionar. Não sabe pensar os termos intensos de um Crime e Castigo; redenção e depuração de si. Logo, concluo com as seguintes questões, todo poder megalomaníaco é impotente, um querer que só quer querer o querer, é inútil como projeto de vida. Desobjetivado por excessos de objetos pueris. E, ante tantos tipos de poder dela que elenquei, ela agora está à porta do limite, mas um sem céu, que não leva a Deus, e sim, a ela mesma. Pré-requisito do divino, dizem algumas religiões, porém, no momento é somente isso, um limite que levou a ela mesma. E é precisamente aí, no front com esse limite, sob si mesma, ante mero espelho barato das casas Bahia, cabe a ela saber: seu poder atual é de curto prazo, não salvará seus amigos/ex-amigos, seu poder não pode influenciar mais a língua de Daniel Gomes nem de outras delações que correm em paralelo, algumas inclusive sem anonimato. Seu poder, não pode transcender a ciência forense em pleno vigor no caso, a tecnologia da informação já com fartas provas de tudo que se passou, onde passou, enfim, um mundo digital cheio de e-mails de TR’s traficados, de câmeras indiscretas por aí, que vão de Goiás ao nosso mar de Tambaú e outros flats da vida. Erupção de coisas a registrar os atos deletérios impulsivos. O tempo corre contra essa extrapolação toda, assim como correu contra um Eduardo Cunha ou Palocci.
Esse extrapolar da tal “expropriação revolucionária” tão propagada cinicamente pela liturgia socialista, que vossa excelência nunca precisastes levar a sério, né? Os deixou todos nus moralmente, e dóceis. Uma corte nababesca espantada e inercial. Amigos leitores, no fundo de tudo, agora, após todos os delírios da cela, não lhe cabe escrever livros como fez Gramsci, Hitler ou ensaia até o próprio Lula. Seu despropósito ideológico não tem esse lenga lenga falso de líderes que justificam crimes com bravatas heroicas. Ela não é mito, e nos poupará de fábulas. Resta tão somente a ela, rapidamente, perceber que logo só terá um único tipo de poder: o de se salvar! Mitigando sua pena com sua delação premiada, de forma egoíca e simples. Corajosa como sempre foi. Movida por seus instintos como sempre o fez em cada desenlance que hoje nos surge nessa ORCRIM. Ela pode o poder de desfrutar do seu último gesto de poder, que pode lhe dar a liberdade relativa. Pois, os absolutos da investigação e o senso de sobrevivência de Daniel Gomes, começam a acusar também, o fim deste derradeiro gesto de potência que ela até então preserva.
DÁ O QUE PENSAR:
Entre um namastê ou um alea jacta est, fico com o sentimento que é o saber prático romano que mais combina para com essa vossa excelência. Embora o hinduísmo é sempre um convite a paz, algo que precisarás no pedagógico freio dos desejos. Espiritualidade é também justiça!