O presidente da mineradora Vale, Fabio Schvartsman, afirmou nesta quinta-feira (14) à comissão externa da Câmara dos Deputados sobre Brumadinho que a companhia foi surpreendida e até hoje não sabe o que causou o derramamento de rejeitos de minérios que provocou a morte de 166 pessoas.
O rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, ocorreu no último dia 25 de janeiro e o número de mortos ainda pode aumentar, já que 155 pessoas estão desaparecidas, destaca reportagem da Agência Câmara.
“Fomos surpreendidos por Feijão. Todas as informações nos mostravam que não havia qualquer risco iminente com aquela barragem, não exigindo quaisquer ações da companhia”, disse Schvartsman. “A Vale é uma joia brasileira e não pode ser condenada por um acidente”, completou.
Ouvido na primeira audiência pública do colegiado, o presidente da Vale, entretanto, admitiu que o sistema de monitoramento adotado pela empresa e os laudos de estabilidade contratados não foram suficientes para antever o desastre. “O que quer que vínhamos fazendo, não funcionou”, disse. A reunião foi proposta pelos deputados Elcione Barbalho (MDB-PA), Zé Vitor (PMN-MG) e Zé Silva (SD-MG) – coordenador da comissão.
Segundo Schvartsman, os laudos de estabilidade funcionam como pedra fundamental de qualquer sistema de mineração no mundo e são produzidos por especialistas nacionais e internacionais. “Se esses laudos, feitos por gente capacitada para isso, dizem que as barragens estão estáveis e não há risco iminente [de ruptura], por que nós, de dentro da companhia, vamos contestar? ”, indagou.
Investigação
Contrapondo-se à tese de acidente, o procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Antônio Sérgio Tonet, disse que as causas da catástrofe ainda estão sendo apuradas, mas, segundo ele, já há elementos de prova documental para indicar que o rompimento da barragem em Brumadinho não se deu por obra da natureza.
“Já havia preocupação, dentro da empresa, com os riscos daquele empreendimento. A própria promotoria de Defesa do Meio Ambiente já havia instaurado um procedimento investigatório específico sobre aquela barragem”, disse. Tonet, no entanto, revelou que laudos enviados pela Vale ao Ministério Público em setembro ou outubro do ano passado atestavam a segurança da barragem Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.
O deputado Rogério Correia (PT-MG) também rebateu a tese de que foi acidente. “É fácil saber que houve liquefação da barragem e a Vale sabia disso”, disse o deputado, que apresentou requerimento para que o Ministério Público peça a prisão preventiva dos diretores da Vale por ocultação de provas.
Já o deputado Igor Timo (Pode-MG) disse que a Vale já sabia do rompimento 15 dias antes. “O geólogo César, funcionário de uma empresa alemã, já havia informado que os censores da barragem foram acionados. Não é normal que não tenha havido tempo para uma avaliação”, criticou.
Em resposta aos deputados, Schvartsman disse que a liquefação está evidente, mas resta saber o que a provocou. “É isso que tem que ser investigado”, disse. Ele esclareceu ainda que o documento da Vale que projetou mortes, custos e até causas possíveis do colapso, atende a uma exigência da Comissão de Valores Imobiliários (CVM).