A governança corporativa é ponto importante em relação ao progresso e longevidade das empresas. Cada vez mais presente no dia a dia das corporações, ela está ligada a gestão e direcionamento das instituições. Entre os seus princípios estão a equidade, prestação de contas, transparência e responsabilidade.
Um dos temas do II Encontro de Compliance & Governança da Paraíba, que acontece no dia 19 de setembro, às 18h, no Auditório do Sebrae, em João Pessoa, a governança faz parte das boas práticas corporativas e será amplamente discutida no evento. O objetivo do encontro é orientar de forma clara e apresentar as boas práticas corporativas por meio de modelos de compliance, palestras e cases.
Em entrevista, um dos palestrantes do evento, o advogado e consultor em governança, Bruno Suassuna é consultor em Governança, advogado formado pela Faculdade de Direito do Recife – UFPE, com especialização em Direito Empresarial e extensão em Governança Corporativa em Empresas Familiares (IBGC) e Gestão de Empresas Familiares (INSPER). É sócio-titular do Suassuna, Guedes & Costa e Silva Advogados Associados, sócio da AJA Gestão & Governança desde 2016, membro associado ao IBGC, Coordenador do Capítulo IBGC PE e Diretor Administrativo do Núcleo RUMO de Governança Corporativa. Confira:
Qual a importância da governança e do compliance para as empresas, de um modo geral?
As boas práticas de governança corporativa e de compliance são sistematizadas em regras e estruturas que tem por finalidade assegurar o desenvolvimento sustentável da empresa. Através dessas boas práticas as organizações passam a ter maior controle da gestão, avaliando melhor os riscos da operação e qualificando a tomada de decisão numa visão estratégica de longo prazo, o que tende a melhorar o seu desempenho. Estudos demonstram que empresas com boas práticas de governança são mais sustentáveis, mais longevas e mais resistentes aos momentos de dificuldade e crise, o que implica numa maior valorização dessas organizações pelo mercado, repercutindo até mesmo na maior facilidade de acesso a capital.
Quais os princípios da governança?
A governança corporativa tem como fundamento quatro princípios básicos: a transparência; a equidade; a prestação de contas e a responsabilidade corporativa. Esses princípios vão nortear todas as práticas, regras e estruturas de governança. Esses princípios precisam ser incorporados ao dia a dia da organização, ser vivenciados. Governança é antes de tudo atitude. Não adianta, por exemplo, a empresa possuir um conselho, um código de conduta ou sistema de compliance apenas no papel. É preciso exercitar seu funcionamento em conformidade com esses princípios. É preciso acreditar. É um aprendizado que requer esforço e dedicação de todos. É preciso ter em mente que a governança não é um evento isolado, mas uma longa jornada. É fundamental que a alta gestão e os sócios estejam comprometidos com esse projeto. O exemplo e o comprometimento com a mudança têm que vir de cima e ir envolvendo os demais integrantes da organização. É preciso ter foco e persistência para não dar a impressão aos envolvidos de que as coisas não estão avançando.
Como é o cenário da implantação da governança e do compliance no Brasil? E na Paraíba?
Podemos dizer que são temas relativamente recentes no Brasil, por isso ainda pouco conhecidos. Tenho observado, contudo, que o cenário tem mudado rapidamente. Os temas tem ganhado cada vez mais espaço na mídia e na pauta das empresas. Mais recententemente, por conta dos escândalos de corrupção no País, várias alterações legais foram realizadas para impor padrões de governança e compliance. Assim, o que, em alguns casos, antes era uma prática de adesão voluntária das empresas, passou a ser uma regra obrigatória por imposição legal. Na Paraíba, assim como na Região Nordeste, em geral, o cenário tem se mostrado bastante promissor. Percebemos que cada vez mais as empresas da Região estão buscando conhecer melhor os benefícios e vantagens de boas práticas de governança e compliance. Existem empresas nordestinas já bem estruturadas em sua governança que são exemplos de experiências a serem compartilhadas. E isso é muito bom. É preciso conhecer bem o tema antes de decidir. Esperamos que cada vez mais as empresas valorizem as boas práticas de governança, se tornando mais sustentáveis.
Muitas empresas estão buscando consultoria nesta área?
É natural que, com o conhecimento acerca dos benefícios e vantagens da governança, as empresas se interessem mais em dar início a um processo para a sua estruturação. É muito importante o apoio de uma consultoria externa como facilitadora dessa mudança. A consultoria tem o papel de ajudar a identificar as reais necessidades da empresa, apoiar as lideranças na condução desse processo, mediar as diferenças de expectativas entre os envolvidos, sempre com uma visão isenta e imparcial. Temos conversado bastante com várias empresas para entender a real motivação em dar partida a esse processo e a principal razão é a busca da longevidade da empresa através da estruturação de um processo de sucessão.
Como é o panorama das empresas familiares no Brasil?
Segundo estatísticas, no Brasil, cerca de 80% das empresas são familiares e respondem por 50% do PIB. Apesar da relevante presença das empresas familiares no cenário econômico brasileiro, chama a atenção o seu alto índice de mortalidade. Estatísticas dizem que apenas 30% das empresas familiares conseguem sobreviver a transição para a 2ª geração. 13% sobrevivem à sucessão para a 3ª geração e, apenas 3% para a 4ª geração. Essa realidade é motivada mais por questões pessoais decorrentes de conflitos societários e familiares do que por questões econômicas e de mercado. Na empresa familiar o potencial de conflito devido as diferenças de expectativas é muito grande. Se isso não for bem trabalhado pode ocasionar a implosão do negócio.
Quais os principais problemas que o senhor observa enfrentados por essas empresas, na sua experiência?
Eu te diria que o primeiro deles seria a relação família/empresa. Existe muita dificuldade em definir o papel de cada membro da família no negócio ou fora dele. Isto porque, muitas vezes as expectativas pessoais não são convergentes com as do negócio. Nem todo membro familiar tem aptidão ou capacidade de atuar na empresa. Por outro lado, muitas vezes a empresa não tem condições de absorver os membros da família. É preciso encontrar, dentro do perfil de cada um, a melhor forma de contribuir com a empresa que pode ser até mesmo fora dela. O importante é que todos sejam dentro seus perfis, contributivos e colaborativos. Investir nessa preparação e capacitação. Outra questão muito sensível é a sucessão na empresa familiar. Quando iniciar? Como escolher o sucessor? Deve ser familiar ou não familiar? Qual o papel do sucedido durante o processo de sucessão? E após a efetivação da sucessão, qual a função do sucedido? Aqui, mais uma vez, não há solução pronta. São todas questões muito sensíveis que devem ser abordadas com clareza e transparência buscando a solução mais adequada à realidade da família e do negócio.
Levando em conta que sua palestra tem como tema: “Governança e longevidade das empresas familiares”, como garantir essa longevidade?
Não posso dizer que irão garantir a longevidade, mas posso citar aqui algumas iniciativas que certamente vão ajudar bastante. Essas iniciativas foram extraídas do resultado de uma recente pesquisa do Projeto RUMO com 35 empresas da Região Nordeste, ao final de 61 entrevistas. A primeira delas é a profissionalização e capacitação dos membros da família, preparando as novas gerações para os desafios futuros, seja dentro ou fora da empresa. A segunda é a estruturação de um processo de sucessão e governança, estabelecendo regras claras de participação dos familiares na empresa, inclusive sobre o processo de transição e sucessão entre gerações. A terceira é o investimento na diversificação e renovação do negócio, estando atento às mudanças e oportunidades do mercado. Tudo isso, permeado pela coesão e comprometimento da família empresária dando unidade e harmonia ao processo.
O que o senhor pretende abordar no evento dentro dessa temática?
No âmbito das empresas familiares, pretendemos apresentar a distinção entre governança familiar e governança corporativa, apresentando o papel e a importância do compliance. Entendemos que as boas práticas de governança podem ser adotadas por toda e qualquer empresa ou organização, independente de seu tamanho. Precisamos desmistificar essa ideia de que governança corporativa é assunto para grandes empresas com capital na bolsa de valores. Demonstrar que muitas vezes com medidas simples, de baixo custo, com soluções caseiras, podemos dar início à adoção de boas práticas. Só que, em se tratando de empresa familiar, o processo ganha um elemento adicional que influencia e é influenciada pela empresa, a família. E essa relação família empresa, se não for bem tratada pode destruir o negócio. Por outro lado, sem for bem explorada pode trazer benefícios à longevidade do negócio.
Por fim, qual sua expectativa para o evento?
Acredito que o evento irá mobilizar, ainda mais, os empresários e executivos da Paraíba acerca da importância da governança como geradora de valor e sustentabilidade do negócio. Espero poder contribuir com essa mobilização, ajudando na disseminação do tema.