Suetoni Souto – Jornal da Paraíba
Mesmo atingindo em cheio a própria classe, o ex-deputado federal mineiro Elias Murad (já falecido) tinha uma frase magistral. Ele dizia que “o Brasil progride à noite, enquanto os políticos estão dormindo”. Murad era respeitado e foi um dos deputados constituintes. Ninguém, em sã consciência, pode dizer que o pensamento dele não representa o de uma parcela significativa da população. Afinal, só um ‘sadomasoquista bêbado’ vê com naturalidade a composição de contrários nas alianças partidárias em período pré-eleitoral. Aliados de longas datas viram adversários e adversários, imaginem, trocam figurinhas para equacionar os discursos de reaproximação. Sem tirar nem por, talvez sem querer, assassinam a coerência. É o caso, por exemplo, da deputada estadual Daniela Ribeiro (Progressistas). Foi o caso também de outras lideranças paraibanas no passado.
A um dia para o início do prazo das convenções, há um total mistério sobre o alinhamento partidário da parlamentar. Para a disputa do Senado, Daniella ficará com a oposição, onde está há oito anos ou seguirá para a base governista? Suponha que um paraibano tenha ido em maio para a Estação Espacial Internacional e voltou agora? Ficaria birutinha. Rômulo Gouveia faleceu, sobraram agulhadas no Parque do Povo e Daniella Ribeiro poderá ir para a base governista. Não custa lembrar que a progressista passou os últimos oito anos criticando a atual gestão. Isso dificulta o discurso, apesar de não custar lembrar, também, que Daniela e o Progressistas têm todo o direito de escolher o rumo a ser tomado nas eleições deste ano. O problema é o timing. É difícil entrar na cabeça do eleitor, sem que ele faça péssimo juízo, que as mesmas pessoas que trocaram farpas até maio estejam abraçadas hoje. Pelo menos não neste plano terrestre.
Certamente vou receber mensagens de leitores dizendo que na política é assim mesmo. Alguns, por vezes malcriados, dizendo impropérios da deputada. E seria injusto. Para quem conhece o trabalho de Daniella Ribeiro, sabe que ele é sério. E se essa premissa não fosse verdadeira, ela não teria potencial eleitoral e não arriscaria uma reeleição certa para a Assembleia Legislativa em nome de uma aventura. Mas convenhamos, é difícil costurar argumento para justificar a mudança de campo. O foi com Cássio Cunha Lima (PSDB) quando se alinhou com Ricardo Coutinho (PSB), em 2010. O foi com José Maranhão (MDB), quando seguiu o mesmo caminho do tucano, em 2014. A liga que se formou para a composição, na época, e que acabou entendida pelos aliados foi a sobrevivência. Não é o caso atual.
Os progressistas estão nas gestões do PSDB, em Campina Grande, e do PV, em João Pessoa. Em ambas, ocupam espaços importantes. Na Rainha da Borborema, inclusive, o vice de Romero Rodrigues é Enivaldo Ribeiro, pai de Daniella. As conversas estão se desenrolando. Até agora, há sinais de fechar com socialistas ou com os verdes. Tem faltando, no entanto, coerência ideológica nos discursos. A única liga dialética foi uma reunião na Granja Santana, com Ricardo Coutinho, para discutir segurança em Campina Grande. É muito pouco para oito anos de críticas a posturas e gestões. Os recados que sobram para a população, neste caso, são negativos. A ampulheta da política já foi virada e o tempo corre contra os pré-candidatos. Todos terão as posturas avaliadas nas urnas.