O senador Aécio Neves (PSDB-MG) prestou depoimento na sede da Polícia Federal em Brasília, nesta quinta-feira (26), no inquérito em que é suspeito de receber propina em esquema envolvendo a construção da usina de Santo Antônio, em Rondônia. A acusação teve origem em delações premiadas de executivos da Odebrecht já homologadas no Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da Operação Lava Jato. Alvo da investigação, o tucano se tornou réu e, além da ação penal, responde a oito inquéritos no STF.
O senador chegou à PF por volta das 15h30 e deixou o local pouco depois das 17h. O tucano não falou à imprensa depois do depoimento, mas seu advogado, Alberto Zacharias Toron, emitiu nota para desqualificar a acusação, destaca reportagem do Congresso em Foco.
“Por se tratar de empreendimento conduzido pelo governo federal à época, ao qual o senador e seu partido faziam oposição, não há nada que o vincule às investigações em andamento”, diz trecho da mensagem (íntegra abaixo).
Dono da empreiteira que batiza, Marcelo Odebrecht, um dos principais delatores da Lava Jato, disse ter combinado um pagamento de propina de R$ 50 milhões ao senador tucano, dos quais R$ 30 milhões sob responsabilidade da Odebrecht e o restante da Andrade Gutierrez, outra empreiteira envolvida no petrolão. Ambas as empreiteiras compõem o consórcio que executou a construção da usina hidrelétrica.
Réu
Mas o depoimento é apenas um do longo cardápio de compromissos que o tucano terá com a Justiça nos próximos meses. Acusado de corrupção e obstrução da Justiça, Aécio é o primeiro integrante do PSDB a virar réu na Operação Lava Jato e o primeiro político a ter denúncia aceita com base na megadelação dos empresários Joesley e Wesley Batista, donos da Holding J&F. Por unanimidade, os ministros da Primeira Turma do STF disseram ver indícios de que o parlamentar praticou corrupção passiva.
Já em relação ao crime de obstrução da Justiça, o colegiado de cinco ministros não decidiu de maneira unânime. Ficaram vencidos o ministro Alexandre de Moraes e o ministro Marco Aurélio Mello, nesse caso relator da ação contra Aécio no Supremo.
Segundo a denúncia, Aécio solicitou a Joesley Batista, em conversa gravada pela Polícia Federal (PF), R$ 2 milhões em propina, em troca de sua atuação política em favor do grupo empresarial. Ex-presidenciável do PSDB, partido que presidiu até ser alvejado por essa denúncia, o senador tem sido aconselhado a não disputar as eleições de outubro para não atrapalhar a candidatura de correligionários como Antonio Anastasia, senador que tentará o governo de Minas Gerais.
Leia a nota de Aécio depois do depoimento:
O senador Aécio Neves prestou, nesta quinta feira (26/04), todos os esclarecimentos solicitados em inquérito que investiga as obras da usina de Santo Antônio, no Estado de Rondônia.
Por se tratar de empreendimento conduzido pelo governo federal à época, ao qual o senador e seu partido faziam oposição, não há nada que o vincule às investigações em andamento.
Os próprios delatores afirmaram em seus depoimentos que as contribuições feitas às campanhas do PSDB e do senador nunca estiveram vinculadas a qualquer contrapartida.
Alberto Zacharias Toron
Advogado