Quando faltavam 10 segundos para as 17h da sexta-feira, começou uma contagem regressiva entre petistas que acompanhavam o ex-presidente Lula, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos em São Paulo. Ao contrário do que muitos imaginavam, não era para que o petista se entregasse, mas sim para comemorar que ao final, na hora limite, ele não se entregaria. A pedido de parlamentares e outros militantes, as pilhas dos relógios da sala onde estava Lula e também dos corredores foram retiradas. Mas era possível ver a hora chegar em celulares e relógios pessoais, informa reportagem do Congresso em Foco.
Um outro ponteiro também avançou. Ao longo da tarde de ontem (sexta-feira, 6), ao menos por duas vezes, pálido e suando muito, Lula teve picos de pressão. O médico que acompanha o ex-presidente aferiu. Reflexo de uma sexta que pareceu sequência ininterrupta da quinta-feira, quando a ordem de prisão foi determinada pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.
Lula mal dormiu de quinta para sexta e há incontáveis horas vem recebendo lideranças da América Latina, parlamentares de dentro e fora do Brasil, sindicalistas, artistas e representantes de ao menos seis partidos políticos de esquerda (PSOL, PDT, PSB, PCdoB, PCO, PSTU), além do próprio PT. Neste exato momento, pela segunda manhã consecutiva, está na sede do sindicato, com políticos que prometem não o abandonar neste momento.
Ontem, pela segunda noite sem sair do local, emissários levaram itens pessoais para mais um longa noite que virá precedida de um longo dia que se inicia neste sábado. O presidente está na sede do sindicato desde às 19h de quinta-feira (5).
“Lula vai ser preso amanhã” era a frase que dita desde que Moro expediu o mandado de prisão. “Fica tranquila(o). Nós vamos conseguir”, “é um momento difícil mas vamos sair vencedores. O Brasil vai sair melhor”, diz entre fotos, abraços, beijos e muitas lágrimas os amigos que o encontram. Uma ala petista associa o momento a mesma resistência que o ex-ministro José Dirceu demonstrou ao ser preso tanto pelo mensalão quanto pela Lava Jato.
Dirceu, inclusive, está impedido de ir à São Paulo, já que cumpre pena fora da cadeia com restrições. Não pode sair de Brasília mas é apontado como um dos estrategistas no projeto de campanha do PT nestas eleições, mesmo que “à distância”.
Não só a esquerda lamentou com Lula, o MDB representado por Eunício Oliveira, Renan Calheiros e Roberto Requião demonstrou solidariedade. Também políticos do Democratas, legenda do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), manifestaram apoio. As ausências mais comentadas, entre os militantes, foram a de Marina Silva e Ciro Gomes, ambos presidenciáveis.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, partido de Ciro, no entanto, esteve pessoalmente lá. A ex-presidente Dilma Rousseff, que prepara candidatura por Minas Gerais, também. Mas o que se vê agora é um clamor da militância inexistente no impeachment e que ainda não se sabe até quando irá persistir diante da possibilidade de Lula não ser candidato.
A ordem é resistir. De longe, uma questão prática dificultava a saída de Lula do prédio: muitos manifestantes no local e ruas interditadas. Ontem, tinha ainda quem visualizasse o momento em que Lula pediria para os manifestantes abrirem um corredor para que ele passasse e fosse conduzido à inevitável prisão.
Ainda ontem (sexta-feira, 6), dia que também entrará para história, teve churrasco, arroz, feijão e galinhada na sede do sindicato. E mais à noite, samba. Ao som de “você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”, lideranças da mobilização lá dentro do prédio do sindicato se referiram como traidores os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) mais próximos à esquerda que votaram contra o habeas corpus de Lula, principalmente o relator do caso, Edson Fachin, que novamente tem um recurso de Lula em mãos.
Ele é o relator da reclamação que a defesa do ex-presidente apresentou para não ser preso. Cármen Lúcia confirmou a relatoria de Fachin na noite desta sexta e ao que tudo indica: Lula vai ser preso hoje (sábado, 7). Mas a defesa ainda tenta negociar para depois de amanhã, segunda-feira (9). Neste sábado, o ex-presidente ainda pretende ir à missa de aniversário de dona Marisa Letícia antes de tomar qualquer outra decisão. O prazo dado por Moro acabou, mas o fato dele não ter se entregado, para a Justiça, ainda não siginifica uma desobediência.