O município de Santa Rita é o único no Nordeste e um dos sete no Brasil a desenvolver um projeto pioneiro para erradicar a hepatite C, e atende recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMC) de eliminar o vírus até 2030, cujo cenário mundial tem como estatística 115 milhões de infectados. A estratégia foi apresentada numa aula explanatória nesta quarta-feira (28), promovida pela Secretaria Municipal de Saúde, aos profissionais da Atenção Básica, que darão início à execução do projeto no próximo dia 16 de abril, na abertura da Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe Influenza.
Para a secretária Municipal de Saúde, Maria do Desterro Fernandes, esse projeto será um marco na reorganização do processo de trabalho na secretaria, que já vem realizando os testes rápidos nos eventos municipais e serão intensificados na campanha contra a gripe nas pessoas acima de 60 anos. Aqueles que tiverem o diagnóstico da Hepatite C serão encaminhados para os serviços referendados.
“É um privilégio participar deste projeto, pois fomos escolhidos pelos indicadores de saúde alcançados em 2017 ao retomar a qualidade dos serviços de saúde com a abertura não só das unidades e abertura de duas novas policlínicas municipais, mas com o fortalecimento da Atenção Básica e da Vigilância, e ainda, o avanço desta gestão na melhoria dos indicadores de busca ativa de algumas doenças de notificação compulsória, aumento da cobertura vacinal e cobertura do pré-natal. O Ministério da Saúde acompanha isso no sistema, o que favoreceu a abertura das portas para a execução do projeto”, destacou.
Maringá-PR, Rio Branco-AC, Florianópolis-SC, Piracicaba-SP, Campo Grande-MS e Alvorada-RS são os demais municípios inseridos no projeto e, em média, vão disponibilizar três unidades de saúde para a prática da iniciativa. Já Santa Rita, será o único município brasileiro neste projeto a disponibilizar 39 unidades de saúde para desenvolver a testagem rápida, que terá como público alvo os idosos acima de 60 anos, considerados inseridos nos grupos de risco para a patologia.
A iniciativa é um projeto acadêmico idealizado pelo infectologista gaúcho e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dimas Kliemann. Na Paraíba é coordenado pelos gastroentorologistas José Eymard Filho e Juliana Barbosa, e conta ainda com o apoio de especialistas de outros centros de ensino superior do Brasil, governos estaduais e municipais.
O projeto consiste em descobrir os portadores da hepatite C de forma precoce, encaminhar para o tratamento e diminuir a evolução da patologia para cirrose e câncer de fígado, que podem levar ao óbito, embora a doença tenha cura. “As nossas chances de descobrirmos portadores da hepatite C nesse grupo de risco é muito alta, e isso será uma janela de oportunidade para a identificação da doença e adoção de medidas para a cura”, adiantou José Eymard Filho.
Em Santa Rita, quase 100% dos enfermeiros da Atenção Básica já recebeu capacitação para a realização dos Testes Rápidos e o treinamento também será estendido para os Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Endemias para fazer a busca ativa de toda a população acima dos 60 anos, que passaram por algum tipo de cirurgia, ou aquelas pessoas que se submeteram a uma transfusão de sangue e até mesmo que tiveram contato com algum material contaminado.
De acordo com José Eymard Filho, a hepatite C tem uma frequência maior nas pessoas acima de 40 anos, principalmente nos portadores de outras doenças, como o diabetes, que tem mais chance de serem positivos para a doença. “O vírus C dificulta o controle da glicemia nos diabéticos. Vamos filtrar a população que tem mais chance de estar infectada e com isso obter o melhor resultado para essa estratégia de identificação dos portadores da hepatite C”, explicou.
“Santa Rita é um marco não só pelo número de participantes neste evento, mas pela ambição e ousadia em disponibilizar esse número de profissionais e unidades de saúde”, destacou o coordenador do projeto na Paraíba.
A oferta de testes rápidos nas unidades de saúde em Santa Rita é contínua, mas durante a campanha será potencializada com o alcance ao público alvo da Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe Influenza. O projeto também faz parte da política de saúde pública do País por meio do Programa Nacional de Hepatites Virais.
Ao ser identificado, o portador da hepatite C segue um fluxograma de atendimento que é feito, na Paraíba, no Hospital Universitário Lauro Wanderley e Complexo Hospitalar Clementino Fraga, em João Pessoa, como também no Hospital Alcides Carneiro, em Campina Grande. “Achar o paciente é o primeiro passo para erradicar a doença”, lembrou José Eymard Filho.
O gastroenterologista explicou que o vírus é recente e até a década de 90 não se sabia da existência dele e que os tratamentos anteriores levavam a cura de aproximadamente 50% dos casos, com vários efeitos colaterais e uma série de contraindicações. “Atualmente, o portador tem em geral acima de 95% de chances de cura, com menos reações adversas nas drogas oferecidas no tratamento”, informou.
Ele ainda lembrou que não tem vacina para prevenir a infecção e uma fração significativa sem sintomas evolui a longo prazo para cirrose descompensada e câncer de fígado. “Nem todo mundo desenvolve as complicações e não tem como prever esses pacientes”, sustentou.
A hepatite C é transmitida pelo compartilhamento de seringas contaminadas (ou objeto cortante), transfusão de sangue e relações sexuais desprotegidas. O país tem 155 mil casos notificados, sendo que 57 mil já foram tratados, 25 mil estão em tratamento e 73 mil brasileiros ainda precisam se tratar. As hepatites virais são responsáveis por mais de 1 milhão de mortes por ano.