Nesta segunda-feira (19) o dia é marcado para os agricultores sertanejos pela devoção ao santo católico São José, considerado para muitos como o protetor do trabalhador. O agricultor José Bonifácio, de 59 anos, mora no sítio Serrota no município de Passagem, no Sertão, e acredita numa antiga tradição de que se chover no dia de São José, é porque o agricultor pode plantar despreocupado, informa reportagem do jornalista Epitácio Germano, do Jornal da Paraíba. “Esse é o último prazo que homem do campo considera para iniciar o plantio no roçado. Quando isso não acontece é porque o ano será ruim, sem colheita”, disse.
José Bonifácio revela que sua devoção ao santo São José existe desde o tempo de seus avós. “É uma devoção secular, meu avô costumava sempre rezar neste dia e pedir muitas chuvas para São José. Eu tenho muita fé e acredito na experiência. É uma esperança que a gente carrega e que se renova todos os anos”, contou o agricultor.
E a expectativa para este ano? “Eu acredito que o inverno esse ano vai deixar bons frutos no campo, porque a chuva chegou antes do esperado. Os barreiros aqui já estão acumulando água e a paisagem está diferente do cinza: agora é verde. Se Deus quiser, São José vai mandar mais chuva e a colheita vai ser garantida”, concluiu José Bonifácio.
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Segundo o padre Dagnaldo Alexandre, da Igreja de São José, no bairro José Pinheiro, em Campina Grande, o santo é considerado pela Igreja Católica como intercessor a Deus pelos trabalhadores. “São José é o patrono da Igreja, sua interseção é pelos trabalhadores, mas há desde muito tempo uma devoção forte do homem do campo em relação às chuvas. Isso para Igreja é sinônimo de alegria também, porque a chuva é algo sagrado, não existe nenhum problema em atribuir essa relação e, por outro lado, o agricultor é também um trabalhador forte”, explicou.
Ciência tem explicação
A meteorologista da Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (Aesa), Marle Bandeira, explica que, para ciência, o fenômeno da chuva durante o período das comemorações ao dia de São José ocorre devido ao comportamento da zona de convergência intertropical no oceano sobre a região do Nordeste. “A chuva registrada durante o mês de março no nordeste, especialmente na região do interior, ocorre por conta da zona de convergência. Isso acontece quando existe uma condição favorável [às chuvas], o que depende da temperatura do oceano e outros fatores da natureza que são analisados de forma científica”, explica.
Em relação à previsão do tempo para essa segunda-feira, a meteorologista revelou que pode ser registrada chuva em algumas regiões do estado. “A previsão hoje é de chuva para região do Sertão, no entanto, de forma isolada podendo acontecer o registro em algumas cidades e outras não”, revelou Marle Bandeira.
De pai pra filho
Em São José de Sabugi, também no Sertão, município que tem São José como padroeiro, o agricultor Inácio Garcia de Medeiros, de 66 anos, conta que a devoção na cidade é muito forte. Ele mora no sítio conhecido como Penedo. “Todos os anos celebramos esse dia com muita festa. É um momento de renovação da fé para o sertanejo, especialmente, pela expectativa da chuva. Quando chove no dia de São José costumamos dizer que a colheita está garantida para o São João”, ressaltou.
A crença do agricultor ao santo católico São José também foi repassada por seus avós, e hoje é seguida por seu filho, Iranildo Araújo de Medeiros, de 38 anos. “Meu filho também é agricultor e ensinei essa experiência pra ele desde quando ele era menor. Quem mora no campo precisa observar o tempo e conhecer como funciona as experiências antigas”, disse Inácio Garcia.
Iranildo Araújo também mora no sítio Penedo e revelou que no dia de São José o olhar do homem do campo é sempre voltado para o céu. “A gente passa o dia observando o céu, se há muitas nuvens, se o sol vai prevalecer durante todo dia e tem também a questão do relâmpago pela madrugada. Todas essas situações são sinais. Se o dia for nublado ou com chuva, por exemplo, a expectativa é boa. Eu tenho muita fé em São José e acredito nessa experiência, porque ela vem desde os meus avós”, comentou.