A incerteza em relação às eleições presidenciais levou a uma série de lançamentos de candidatos nos últimos meses em busca de um espaço pelo centro, fugindo da polarização entre o ex-presidente Lula (PT) e o deputado Jair Bolsonaro (PSC). Mas a indefinição persiste, já que, na maioria dos cenários, todos patinam na casa de um dígito nas pesquisas de opinião. O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), rodou diversos estados, e o apresentador Luciano Huck entabulou conversas com movimentos e partidos, mas acabaram se colocando fora da disputa. Nas últimas semanas, foi a vez de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), entrar em campo, duelando publicamente com outro contendor, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD). Apesar da profusão de nomes, boa parte dos analistas do mercado acredita que a tendência é que o espaço da centro-direita seja mais uma vez ocupado por um nome do PSDB, mais especificamente o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Reportagem do Congresso em Foco informa que no sobe e desce dos candidatos de centro, o ambiente é de apreensão, e a percepção do cenário entre agentes do mercado financeiro é de que há insegurança na construção de um candidato viável nesse segmento. Segundo representantes de investidoras do mercado ouvidos pelo GLOBO, Alckmin não empolga em meio à polarização entre Lula e Bolsonaro. Ainda assim, o apoio dos partidos de centro deve afunilar para o tucano, por sua trajetória como comandante do maior estado do país por quatro mandatos, pela estrutura partidária e por figurar como o candidato mais bem posicionado de seu campo nas pesquisas. Embora oscile entre 6% e 12% das intenções de voto, de acordo com a última pesquisa Datafolha, publicada em dezembro, seus concorrentes na centro-direita não passam de 2%.
— O grande risco da eleição, a meu ver, é uma possível fragmentação do centro. Temos vários possíveis candidatos, mas ainda é muito cedo para achar que não haverá uma aglutinação em um ou dois nomes. No entanto, enquanto estivermos vivendo esta dúvida, o mercado ficará apreensivo. Um centro dividido aumenta muito o risco de algum candidato não comprometido com as tão necessárias reformas vencer as eleições — avalia Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central e CEO da Mauá Investimentos.
Apesar de ser incluído entre os dois possíveis nomes com chances de chegada, Meirelles sofreu reveses esta semana em sua pretensão de suceder Michel Temer. Um dia depois da divulgação de um dado positivo, a menor taxa de inflação dos últimos anos, foi anunciado o rebaixamento da nota de crédito do Brasil.
Além dos baques na economia, Meirelles viu seu nome para o Planalto ser esvaziado por Temer que, em entrevista a “O Estado de S.Paulo”, elogiou a candidatura de Alckmin e disse preferir que seu ministro continue na Fazenda.
Não só Temer. O principal dirigente do PSD, o ministro da Ciência e Tecnologia Gilberto Kassab, dá corda à candidatura de Meirelles, mas nos bastidores articula para integrar a chapa do PSDB em São Paulo como senador ou vice-governador. E para o mercado Meirelles também não encanta. Dizem que embora seja um excelente quadro técnico, não vão dar gás a “um cavalo que não é competitivo e nem tem chances de chegada”. No último Datafolha, Meirelles flutuou entre 1% e 2% das intenções de voto.
O cientista político e presidente da consultora Arko Advice, Murillo Aragão, diz que a preocupação do mercado não é que haja necessariamente um candidato de centro, mas um nome viável, comprometido com políticas fiscais e econômicas sólidas. Ele diz que, nesse sentido, Lula se excluiu, já que deu sinais de que, se eleito, haverá uma guinada à esquerda:
— O mercado nem ninguém quer uma guinada à esquerda. O Brasil está cansado dessa experiência. O mercado espera que esse candidato, com essas características, apareça, mas ainda não apareceu. Além de Alckmin, o Rodrigo Maia, o Meirelles e o Temer, todos estão no radar do mercado. Isso deve afunilar em abril, depois da convenção do DEM, que pode lançar Maia; da janela partidária de março, e das desincompatibilizações, quando se saberá se Meirelles sai ou não. A definição desse candidato de centro também está condicionada ao julgamento de Lula, dia 24, e a aprovação ou não da reforma da Previdência.
Maia intensificou movimentação esta semana com contratação de assessoria especial e viagens com agenda de candidato reformista, mas é o travamento da votação da reforma da Previdência que atinge sua pré-candidatura. Em entrevista ao GLOBO, Maia disse que se seu nome está sendo cogitado como uma alternativa “porque há uma avenida aberta”. O DEM vai estimular a pré-campanha de Maia e, nas conversas com investidores, avisou que não tem porque decidir agora se vai se aliar a Alckmin.
Com uma bancada de cerca de 40 deputados e a agenda simpática ao mercado de Maia, o DEM espera ter mais força para negociar com Alckmin. O foco seria o cargo de vice-presidente e a reeleição de Maia para o comando da Câmara. O prefeito de Salvador, ACM Neto, outro político observado pelo mercado, deve ganhar a presidência do partido na convenção de fevereiro.
Apesar de alinhado à agenda de Maia, o mercado vê com descrença a candidatura, lembrando que na única disputa para o Executivo, quando concorreu à prefeitura do Rio em 2012, o atual presidente da Câmara teve 3% dos votos.
— O quadro atual não está claro. Além do fator Lula, que de certa forma contribui para essa indefinição, até meados do ano todos os partidos de centro-direita vão buscar se cacifar para conseguirem o melhor acordo possível na composição de uma chapa presidencial — diz Erich Decat, analista político da XP Investimentos.
O presidente do PMDB e líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), diz que o partido não vai decidir agora se fecha aliança com Alckmin. Para Jucá, o candidato que o PMDB apoiar terá que defender o legado de Temer:
— Ninguém precisa fazer juras de amor no palanque, mas não aceitaremos que neguem o que Temer fez.