Forças de segurança do Rio Grande do Sul e do governo federal, em Brasília, já têm em mãos o plano de segurança para impedir atos de violência nas manifestações previstas para o dia 24, em Porto Alegre, quando o TRF-4 julgará recurso do ex-presidente Lula contra a condenação do juiz Sergio Moro no caso do tríplex do Guarujá. Um gabinete de crise foi montado com a participação de orgãos como a Brigada Militar, que faz o policiamento ostensivo, a Polícia Rodoviária Federal, que acompanhará a chegada de manifestantes nas estradas, e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que já monitora a preparação para os atos.
Segundo reportagem de Cleide Carvalho e Roberto Maltchik, do O Globo, o plano de segurança, preparado pelo governo estadual, deve ser aprovado na semana que vem, após a análise técnica dos demais órgãos envolvidos. Já está decidido que haverá convocação de policiais de várias regiões do estado, inclusive com a chegada de contingentes hoje deslocados para as praias do litoral gaúcho. O Parque da Harmonia, que fica em frente à sede do TRF-4, e todo o entorno do prédio do tribunal, deve ter bloqueios, com esquema especial para a entrada de funcionários e das partes no dia do julgamento.
As Forças Armadas e a Polícia Federal também participam do plano de segurança, além da prefeitura de Porto Alegre, que provocou polêmica ao solicitar o envio de tropas do Exército para compor o esquema de segurança.
— O poder de manifestação estará garantido, como prevê a Constituição. Não há nenhum interesse do governo do estado em impedir manifestações. Porém, o limite da manifestação é o limite da lei. Vamos atuar para evitar a violência e assegurar a segurança dos manifestantes e de quem estiver dentro do tribunal — afirmou o secretário de Segurança do Rio Grande Sul, Cezar Schirmer.
Movimentos sociais ligados ao PT, como o MST e a CUT, estão convocando seus militantes para estarem em Porto Alegre durante o julgamento, em ato de apoio a Lula e contra a condenação a nove anos e seis meses de prisão. Se confirmada em segunda instância, o ex-presidente poderá ser preso após exaurir os recursos ao próprio TRF-4 e ficar inelegível e, portanto, pode ter sua eventual candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral.
Com a proximidade do julgamento, Porto Alegre vive um clima de boatos espalhados por meio de grupos de whatsapp. Um acidente na BR-471, que leva até o Chuí, na fronteira com o Uruguai, ocorrido no primeiro dia do ano e que deixou oito mortos, entre eles quatro cubanos, gerou comentários de que os cubanos estariam se aglutinando em território uruguaio para retornar ao Brasil no dia do julgamento de Lula e participar do protesto. O governo do estado, no entanto, considera esta hipótese praticamente descartada. A princípio, as investigações apontam que os uruguaios pretendiam entrar no Uruguai e usar o país como rota para chegar aos Estados Unidos.
Em dezembro passado, o ex-ministro José Dirceu convocou a militância do PT a ir a Porto Alegre e chegou a classificar como “dia da revolta”. No site diretório municipal do partido em Ribeirão Preto, o texto afirmava que “a hora é de ação, não de palavras, transformar a fúria e revolta, a indignação e mesmo o ódio em energia, para a luta e o combate”.
Além dos manifestantes ligados ao PT, também o MBL está convocando manifestação de apoio à sentença do juiz Sergio Moro, que condenou Lula a nove anos e seis meses de prisão. Os dois grupos não deverão se encontrar. Enquanto os manifestantes pró-Lula querem se reunir em locais próximos ao TRF-4, o MBL convocou manifestação para o Parque Moinhos de Vento, conhecido como Parcão e localizado numa área nobre da cidade.
O procurador regional dos direitos do Cidadão no Rio Grande do Sul, Enrico Freitas, realizou na última segunda-feira uma reunião com cerca de 12 representantes de movimentos sociais, entre eles MST e CUT, para ordenar ações que impeçam atos de violência.