O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, antecipou a negociação de alianças para sua candidatura ao Planalto e já sinalizou a dirigentes partidários que está disposto a ceder a vaga de vice em sua chapa e oferecer o apoio do PSDB a outras siglas nos Estados em troca da adesão a seu projeto presidencial.
O tucano teve encontros com caciques do DEM, do PP e do PTB nas últimas semanas de 2017 para discutir o apoio a seu nome na disputa deste ano. Aos democratas, o tucano demonstrou disposição em entregar ao partido a indicação do candidato a vice-presidente na disputa, revela reportagem de Bruno Boghossian, da Folha.
Favorito no PSDB para concorrer à Presidência da República, Alckmin decidiu deflagrar um movimento ostensivo de negociação com potenciais aliados para tentar evitar o isolamento de sua candidatura e romper o bloco partidário que dá sustentação a Michel Temer.
O tucano e o presidente se distanciaram com as articulações para a saída do PSDB do governo –o que levou o MDB a planejar uma aliança de siglas governistas para apoiar uma candidatura alternativa à de Alckmin.
Além disso, o tucano passou a enxergar movimentos concretos do DEM –aliado que considera prioritário– em busca de um nome próprio para lançar ao Planalto.
Para evitar a perda de terreno, o governador avançou nas conversas com o PTB, do ex-deputado Roberto Jefferson, e iniciou negociações com o DEM e com o PP.
Alckmin se reuniu nos últimos meses, no Palácio dos Bandeirantes, com dois dos principais articuladores do Democratas. Recebeu o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), em novembro, e o prefeito de Salvador, ACM Neto, no início de dezembro.
O DEM exige a vaga de vice-presidente na chapa de Alckmin caso decida apoiar o tucano. Os nomes cotados são o do próprio ACM Neto e o do ministro da Educação, Mendonça Filho. Nos encontros com dirigentes do partido, o tucano não fez promessas, mas deu os primeiros sinais de que a sigla poderá ocupar esse espaço.
A articulação com o DEM também envolveria a negociação do apoio do PSDB à reeleição de Maia para o comando da Câmara, em 2019, e a candidatos da sigla a governos estaduais, como Cesar Maia (Rio), ACM Neto (Bahia) e Rodrigo Garcia (São Paulo).
Alckmin quer acelerar o embarque do DEM em sua candidatura. O tucano acredita que a adesão antecipada do partido atrairia outras siglas com mais facilidade.
Os democratas hesitam. Acreditam que o desempenho de Alckmin nas pesquisas (de 7% a 9% nos principais cenários) ainda indica um potencial tímido de vitória e o consideram um candidato frágil para uma eleição que pode ser marcada pela rejeição à política tradicional.
A sigla mantém contato com o tucano e admite a possibilidade de se aliar a ele, mas continua em busca de alternativas no campo da centro-direita.
“O foco do DEM hoje é buscar uma candidatura liberal-democrata e reformista própria, e fortalecê-la. Mas é evidente que o diálogo com o PSDB e com Alckmin não está descartado”, diz o ministro Mendonça Filho.
TEMPO NA TV
O governador paulista confidenciou a aliados que o cenário eleitoral incerto o levou a trabalhar para expandir sua aliança e ampliar seu tempo na propaganda de TV.
Originalmente, ele cogitava se lançar com um bloco enxuto, para evitar o desgaste de se coligar com partidos da base de Temer.
O PSDB tem direito a 1min18s em cada bloco da propaganda eleitoral. Alckmin mais que dobraria esse tempo com alianças com PP (50s), PTB (33s) e DEM (28s).
O contato com o PP é estreito. Em meados de dezembro, o governador paulista se reuniu em Brasília com o presidente da sigla, o senador Ciro Nogueira (PI), para discutir a possível aliança.
O partido não faz exigências formais para aderir à coligação de Alckmin, mas já indicou que pretende discutir o apoio do PSDB a candidatos a governador em Estados como Minas Gerais, Paraná, Acre e Roraima.
Os tucanos admitem abrir mão de algumas candidaturas a governador para apoiar aliados que prometam aderir à chapa presidencial de Alckmin, mas ainda vão mapear o quadro antes de decidir.
“Para ganhar aliados, também é preciso ceder. Com as novas regras de financiamento, os partidos vão enxugar suas candidaturas regionais e se concentrar em candidatos competitivos”, afirma o deputado Silvio Torres (SP), tesoureiro do PSDB.