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Os três enes do meu nome: A história secreta da epígrafe no livro póstumo de Ariano

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Publicação da Coluna “Direto ao Assunto”, assinada pelo jornalista José Nêumanne Pinto, do Estadão

A caixa com os livros de Ariano e as epígrafes do nobilíssimo escritor luso e do tosco colega do Semiárido (Reprodução)

 

Lado a lado Almeida Garrett e Zé dos três enes sob auspícios de Ariano no romance “O jumento sedutor” (Reprodução)

Em 1995, meu amigo (e de quem seria, depois, sócio) Pedro Paulo de Sena Madureira, então editor da Siciliano, me fez uma proposta irrecusável: escrever um roman-à-clef (ou seja, um romance a partir de um fato real, mas com personagens com nomes fictícios) sobre o escândalo daquele momento, o roubo feito pelos “anões do orçamento”. Era pegar ou largar. Peguei e não larguei, escrevi.

O livro foi publicado sob o título Veneno na Veia, mas nunca faltou gaiato que mudasse a sílaba fechada por aberta para transformá-lo em Veneno na Véia. Fazer o quê? Certo é que foi publicado e fez algum sucesso de vendas. Por conta disso, a professora Elizabeth Marinheiro, minha confreira nas Academias de Letras de Campina Grande (ALCG) e da Paraíba (ALPB), me convidou para falar dele num seminário sobre literatura que ela promovia no Teatro Municipal de Campina Grande. Escrevi, fui e voltei para casa sem prestar muita atenção naquele texto.

Muitos anos depois, estava escrevendo um editorial já em cima da hora para o Jornal da Tarde, quando a secretária, Cleuza, me chamou ao telefone para atender a outro ilustre confrade na ALPB, Ariano Suassuna. A conversa ao telefone estendeu-se mais do que eu devia e podia manter. Fui obrigado a interrompê-lo.

– Para o que mesmo você está me telefonando? – questionei.

– Então, você está me dispensando? – perguntou, queixoso.

– Não se trata de dispensa. Estou escrevendo um editorial, está em cima da hora para concluí-lo e só atendi porque era você – justifiquei-me.

– É que eu preciso saber se você realmente disse num seminário de literatura em Campina Grande que seu romance mais recente não era de aventuras, mas, sim, o de nossa desventura. Isso encaixa perfeitamente num capítulo de um livro que estou ultimando, aquele que estou escrevendo há 30 anos, e achei que poderia usá-lo. Você permite? – pediu.

– Ora, Ariano, por que você não…? E soltei o palavrão. Ele reagiu:

– Então, você não autoriza, não, é?

– Homem, esse menino, você acha que eu teria o topete de proibir que você usasse uma frase minha em epígrafe? Só se eu estivesse doido. Faça o que quiser da frase. Nem precisa dizer que ela é minha…

Aí, ele me respondeu com um palavrão mais cabeludo do que o que eu tinha empregado. E ficamos por isso.

Mais um tempo transcorreu e fui à sua casa na Graça, no Recife, convidá-lo para minha posse na nossa ALPB. Nosso encontro estava marcado para as 4 da tarde e temi que ele não pudesse me receber desde que vi o time do Internacional de Porto Alegre, com Tite de técnico, tomando café no hotel onde eu estava hospedado. Então, disse à moça que me recebeu ao portão de sua bela casa senhorial.

– Vim aqui só entregar um convite. Posso deixar e ir embora.

A moça entrou e voltou, misturada sua voz com a narração do jogo Sport X Internacional na transmissão da TV.

– Seu Ariano mandou o senhor entrar.

Entrei, esperei-o um pouco, ele saiu do quarto deixando o televisor ligado e veio logo com a bronca:

– Quer dizer que você vem a minha casa e não quer nem se encontrar comigo, seu malcriado, seu mal ouvido, seu mal educado?

– Não quis atrapalhar seu jogo. Lembra-se de quando nos conhecemos que você me mostrou assoviando sua versão do hino do Sport?

– Sim. Mas estou mesmo precisando falar com você. Não sei se vai dar para ir para sua posse, pois tenho muito trabalho na Secretaria de Cultura do governo do Estado de Pernambuco. E preciso muito esclarecer uma coisa daquela sua epígrafe em meu futuro livro.

– Qual é a dúvida?

– Quantos enes tem teu nome?

– Três.

– Como três?

– Sim, três. Ene-e-u-eme-a-ene-ene-e. Não são três?

– Mas tu és safado desde que te conheço…

Referia-se à noite em que o abordei, em 1967, à porta do Teatro Popular do Nordeste (TPN), quando me apresentei a ele, a sua mulher, Zélia, a seu amigo Hermilo Borba Filho, dono do teatro, e à mulher deste, Leda, à espera do show Memórias de dois cantadores, com Edir e Teca. E estão aí Edir Lima, o Edy Star, que mora em São Paulo e acaba de lançar CD novo, e Teca Calazans, que hoje vive em Paris, que não me deixam mentir.

Conduziu-me ao quarto contíguo, com cama e máquina de costura, sobre a qual repousavam os originais de seu mui aguardado romance em letras caprichosamente desenhadas em folhas de papel almaço pautado. Nelas brilhavam, graciosamente, os três enes do meu nome composto.

A prova de que escrevo a verdade está na página 343 do romance O Jumento Sedutor, lançado numa caixa e à disposição em todas as livrarias do País. A epígrafe, com a frase da qual não me lembrava mais – nem tinha como, pois não acho o texto da palestra – foi registrada por ele:

“Não é bem um Romance-a-chave, mas clara e decididamente também o é. Certamente não é um Romance-de-aventuras, mas, com certeza absoluta, posso defini-lo como o Romance da nossa desventura. Um Romance-de-gancho, pendurado nas paredes de nossas livrarias como carne em açougue” (José Nêumanne Pinto, aliás, o Zé dos três enes)

Acima fulgura outra epígrafe, da lavra de Almeida Garrett:

“Neste despropositado e inqualificável Livro, não é que se quebre, mas enreda-se o fio das histórias e das observações por tal modo que, bem o vejo, só com muita paciência se pode deslindar e seguir tão embaraçada Teia”.

Ou seja, o danado do Ariano não apenas pôs mesmo a minha frase,como a juntou com outra de Garrett. Isso me lembrou a tarde em que, a convite da poeta Eunice Arruda, fiz uma palestra, e nem me lembro mais  sobre o quê, ao lado do professor de jornalismo Ivan Teixeira, da Universidade de São Paulo (USP), e nela mofei da mania de Luiz Inácio Lula da Silva flexionar advérbios como menos, que este muitas vezes prefere chamar de menas.

O catedrático abespinhou-se:

– Você sabia que o conde Almeida Garrett também flexionava advérbios?

– Não sabia. Mas tenho certeza de que não foi com Garrett que Lula aprendeu a usar menos na forma feminina inexistente menas.

Dificilmente Ariano, eleitor de Lula, riria de minha piada. Mas juro que, ao contrário do que eu esperava, o público do auditório da Biblioteca Mário de Andrade naquela tarde distante rolou de rir, como se fosse mais uma das tiradas do dramaturgo mais engraçado do teatro brasileiro.

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X informa ter cumprido prazo e indicado representante legal no Brasil

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Redação do Portal da Capital

A rede social X informou ter enviado nesta sexta-feira (20/09) ao Supremo Tribunal Federal (STF) o nome da advogada Rachel de Oliveira Villa Nova para atuar como representante legal da empresa no país.

O envio foi feito para cumprir a determinação do ministro Alexandre de Moraes, que deu prazo de 24 horas para a empresa comprovar a reativação da representação no Brasil. O prazo terminou às 21h29.

Na última quinta-feira (19/09), o ministro pediu que a empresa enviasse documentos de registro na Junta Comercial e que comprovassem a nomeação da advogada para representar a empresa oficialmente.

No mês passado, Moraes retirou o X do ar após a empresa fechar seu escritório do Brasil, condição obrigatória para qualquer firma funcionar no país.

No dia 17 de agosto, o bilionário Elon Musk, dono da rede social, anunciou o fechamento da sede da empresa no Brasil após a rede ser multada por se recusar a cumprir a determinação de retirar do ar perfis de investigados pela Corte pela publicação de mensagens consideradas antidemocráticas.

 

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Lixo: Paraíba lidera ranking de maior concentração de macrorresíduos plásticos em praias do país

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Redação do Portal da Capital

O Estado da Paraíba lidera ranking de maior concentração de lixos classificados como macrorresíduos plásticos depositados nas areias das praias do país.

No recorte por estado, Paraná, Piauí e Pernambuco têm a maior quantidade de microplástico nas areias, enquanto Paraíba, Pernambuco e Paraná compõem o pódio dos macrorresíduos plásticos que são resíduos de plástico de maior tamanho, como garrafas, sacos, copos descartáveis, canudos, embalagens e fraldas.

As praias da Paraíba que primeiro aparecem no ranking das mais sujas do Estado e do país são: Formosa (Cabedelo), Fagundes (Lucena), Gramame (Conde), Cardosas (Baía da Traição). As praias de Cabo Branco (João Pessoa), Barra de Camaratuba (Mataraca), Miriri (Rio Tinto), Azul (Pitimbu), dentre outras, aparecem em seguida. (Clique aqui e veja o ranking completo)

No outro extremo, as praias do Rio de Janeiro, Sergipe e Amapá são aquelas com menor concentração de microplásticos, enquanto as do Maranhão, Piauí e Sergipe apresentam menor quantidade de macrorresíduos plásticos.

O levantamento foi realizado pela Sea Shepherd Brasil, em parceria com o Instituto Oceanográfico da USP e patrocinada pela Odontoprev, apresenta os resultados iniciais da Expedição Ondas Limpas, o maior estudo já realizado sobre o perfil dos resíduos marinhos no Brasil. Após 16 meses de expedição, cobrindo mais de 7.000 km da costa e 306 praias, o estudo evidenciou a onipresença do plástico ao longo de todo o litoral do país.

A expedição percorreu 201 municípios brasileiros, do Chuí ao Oiapoque, e analisou uma área equivalente a 22 campos de futebol para mapear os resíduos marinhos. Os resultados mostraram que 100% das praias do Brasil contêm resíduos plásticos, e microplásticos foram encontrados em 97% delas. Do total de resíduos, 91% são plásticos, sendo 61% itens descartáveis, como tampas de garrafa. Entre os macrorresíduos, o maior volume foi de bitucas de cigarro.

Além de trazer à tona o estado crítico da poluição marinha no país, o estudo também revelou que as praias mais isoladas e protegidas, como áreas de proteção integral, estão entre as mais afetadas por resíduos plásticos de uso único, expondo um paradoxo entre as zonas de conservação e a presença massiva de poluição.

Os dados coletados vão além dos números chocantes: oferecem um panorama profundo sobre os tipos de plásticos e resíduos, destacando a importância de políticas públicas mais robustas e ações governamentais urgentes para enfrentar a crise da poluição.

“Pretendemos que os resultados do projeto não somente choquem, mas provoquem a ação, trazendo à tona a necessidade de políticas públicas e de uma mudança na cultura de consumo de plástico no Brasil.”, afirma Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil.

A expedição seguiu uma metodologia científica rigorosa, seguindo o protocolo da UNEP para a coleta de dados, com amostras analisadas em laboratório para identificar a origem dos microplásticos. Um relatório resumido, com diagnósticos e propostas de soluções, já está disponível, e o lançamento de um artigo científico mais detalhado está previsto.

Confira infográfico:

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Paraíba é o 8º Estado do país com menor desigualdade salarial entre mulheres e homens

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A Paraíba é o 8º Estado do país com menor desigualdade salarial entre mulheres e homens. A informação foi divulgada no 2° Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, publicado no dia 18 de setembro pelos Ministérios do Trabalho e Emprego e das Mulheres.

Segundo as informações, a Paraíba alcança um índice de 15,4% quando a questão trata sobre desigualdade salarial entre mulheres e homens. Acre, Ceará e Pernambuco são os com menores desigualdades salariais entre mulheres e homens, com as mulheres ganhando cerca de 10% a menos do que os homens em empresas com 100 ou mais funcionários. Por outro lado, Espírito Santo e Paraná apresentam as maiores disparidades, com mulheres recebendo 29% a menos que os homens.

A pesquisa revelou que, em todo o país, as mulheres ganham, em média, 20,7% a menos que os homens nas 50.692 empresas analisadas. A média salarial nacional é de R$ 4.125,77, com um salário contratual médio de R$ 2.025,27. O estudo abrangeu mais de 18 milhões de vínculos formais em 2023, com uma massa salarial total de R$ 782,99 bilhões.

No Acre e no Ceará as mulheres ganham 9,7% menos do que os homens. Em Pernambuco, a discrepância é de 9,9%. Entretanto, a desigualdade é mais pronunciada para mulheres negras, que enfrentam diferenças salariais ainda maiores em comparação aos homens não negros. No Acre, a diferença é de apenas R$ 14,17 entre mulheres negras e homens não negros, enquanto em Pernambuco, as mulheres negras ganham R$ 1.205,54 a menos do que os homens não negros.

Essa falta de equidade salarial entre mulheres negras e homens não negros é bem acentuada nos dados gerais do país. Elas ganham, em média, R$ 2.745,26 — apenas 50,2% do salário de homens não negros, que chega a R$ 5.464,29.  “As mulheres negras estão concentradas na base da pirâmide, principalmente serviços domésticos, serviços de limpeza, serviços de alimentação, de saúde básica, nos serviços públicos e nas atividades de gerenciamento e direção”, ressalta Paula Montagner, subsecretária de Estatísticas e Estudos do MTE.

A desigualdade é ainda mais acentuada em estados como Espírito Santo e Paraná, onde a média salarial das mulheres é 29% inferior à dos homens. Em Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro, as mulheres ganham entre 27% e 28% a menos que os homens.

No Distrito Federal a média salarial é de R$ 5.735,13, superior à média nacional de R$ 4.125,77, e de estados como São Paulo (R$ 4.992,15), Rio de Janeiro (4.992,15), Minas Gerais (3.616,86) ou Rio Grande do Sul (4.145,98). Portanto, o DF permanece com a mesma diferença salarial entre mulheres negras que ganham R$ 4.205,60 e homens não negros que recebem R$ 7.546,13 em média por mês. A diferença salarial entre mulheres e homens no DF é de 11,1%.

Para acessar todas as informações por estado acesse aqui e selecione a UF a ser pesquisada.

Confira o ranking de índices:

Espírito Santo – 29,2%

Paraná – 29,1%

Santa Catarina – 28,3%

Mato Grosso – 27,7%

Rio de Janeiro – 27,3%

Mato Grosso do Sul – 27,1%

Minas Gerais – 24,9%

Goiás – 22,7%

São Paulo – 21,6%

Rondônia – 21,5%

Rio Grande do Sul – 20,8%

Amazonas – 20,5%

Bahia – 19,7%

Rio Grande do Norte – 19,5%

Tocantins – 18,7%

Roraima – 18,7%

Sergipe – 16%

Maranhão – 15,7%

Pará – 15,6%

Paraíba – 15,4%

Piauí – 12,6%

Amapá – 12,3%

Distrito Federal – 11,1%

Alagoas – 10,7%

Pernambuco – 9,9%

Acre – 9,7%

Ceará – 9,7%

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