O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), superou o ex-presidente Lula (PT) na bolsa de apostas das principais lideranças do Congresso Nacional para ser o próximo presidente da República. A polarização da disputa entre os dois já era o cenário projetado pela cúpula do Parlamento em agosto. Mas agora, porém, as posições se inverteram. Há quatro meses, 31% dos parlamentares ouvidos acreditavam que Lula era o candidato com mais chances de vitória em 2018. Alckmin aparecia na segunda colocação, com 16%, informa reportagem de Edson Sardinha, do Congresso em Foco.
De lá para cá, o tucano cresceu 13 pontos percentuais e chegou a 29% na cotação da cúpula da Câmara e do Senado. Por outro lado, o petista viu o seu favoritismo cair seis pontos, e ficou com 25%. Quem também registrou queda foi o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Os dados são do Painel do Poder, ferramenta criada pelo Congresso em Foco para mostrar o que pensa e para onde vai o Legislativo brasileiro.
O universo dos entrevistados compreende apenas os congressistas com maior capacidade de decisão: líderes partidários, membros das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, presidentes de comissões e influenciadores das principais bancadas temáticas.
A inversão na projeção eleitoral não é a única novidade da pesquisa, que mostra a variação do humor da cúpula do Congresso ao longo do ano em relação a outros assuntos: quase 80% dos parlamentares ouvidos acreditam que a reforma da Previdência não passará ou só será aprovada com profundas mudanças; cresceu o índice de insatisfação das lideranças sobre a relação entre Executivo e Legislativo, e subiu para próximo de 100% o índice de parlamentares que avaliam que o presidente Michel Temer concluirá o seu mandato.
Bolsonaro e Doria
Quanto ao cenário eleitoral, o crescimento de Alckmin coincide com o “desaparecimento” do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), entre os candidatos com maior potencial no entendimento dos entrevistados. Ele era citado, em agosto, por 13% dos parlamentares ouvidos como o candidato com mais chance de chegar ao Palácio do Planalto em 2018. Dessa vez não foi sequer citado pelas lideranças do Congresso.
Ignorado no levantamento anterior, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) foi apontado agora como o nome mais forte por 10% dos deputados e senadores ouvidos. Quem também saiu do zero foi o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, pré-candidato pelo PDT. Ele é apontado por 6% dos parlamentares. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), oscilou para baixo: de 5% para 4%.
Queda mais brusca teve Jair Bolsonaro, que pretende se candidatar à Presidência pelo Patriota, novo nome do PEN. Em agosto, ele despontava como favorito para 7% dos entrevistados. Agora, é apontado nessa condição por apenas 4%. A avaliação das lideranças não coincide com as pesquisas eleitorais, que indicam uma polarização entre Lula e Bolsonaro nas intenções de voto. Alckmin aparece apenas na quarta colocação, atrás também de Marina Silva, de acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada no início de dezembro.
Também são citados pelos entrevistados como possíveis favoritos para a disputa presidencial Joaquim Barbosa, que negocia filiação ao PSB, Henrique Meirelles (PSD), Cristovam Buarque (PDT), Marina Silva (Rede) e Paulo Rabello de Castro, que já se apresenta como pré-candidato pelo PSC. Cada um deles é lembrado por 2%. Nenhum deles figurava na lista em agosto. Não responderam: 10%.
Reforma da Previdência
Embora o governo tenha adiado para fevereiro a votação da reforma da Previdência, ainda é pequeno o entusiasmo dos parlamentares com o assunto. Para 48% das lideranças ouvidas, é baixa a chance de a proposta ser votada. Outros 29% avaliam como média essa possibilidade. Apenas 6% afirmam que é grande a tendência; 15% entendem que não há chance de a votação ocorrer até março; e outros 2% disseram não saber opinar.
Também há grandes reservas em relação à aprovação da versão mais enxuta da reforma, proposta pelo relator, Arthur Oliveira Maia (SD-BA) – objeto ainda de resistência por parte do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, mas considerada a mais viável pelos parlamentares.
Na avaliação de 48% dos entrevistados, a reforma da Previdência será rejeitada. Para 31%, passa, mas com profundas alterações. Outros 17% apostam que será aprovada com poucas mudanças. Apenas 2% acreditam que a proposta avançará sem alteração. Outros 2% não responderam.
Futuro de Temer
Para a cúpula do Congresso, Temer virou o jogo em relação ao seu futuro político. Em maio, quando foram reveladas as gravações de Joesley Batista que resultaram no oferecimento de duas denúncias criminais contra o presidente, apenas 28% acreditavam que ele concluiria o seu mandato. Em agosto, quando a Câmara barrou o andamento da primeira investigação, esse índice subiu para 56%. Disparou para 92% em dezembro.
Caiu para inexpressivos 4% o índice dos que consideram que Temer terá o mandato abreviado. Em maio, esse era o entendimento de 72%. Percentual que havia caído para 31% em agosto.
A quarta rodada do Painel do Poder ouviu 48 parlamentares entre os dias 30 de novembro e 6 de dezembro. Entre eles, 81% eram deputados e 19%, senadores. Na seleção das lideranças ouvidas, 71% eram governistas, e 27%, da oposição. Como partidos oposicionistas foram considerados o PT, o Psol, o PCdoB, o PDT e a Rede. Não responderam 2%.
Também foi considerada a proporção da distribuição das cadeiras por região: Sudeste (44%), Nordeste (23%), Sul (15%), Norte (10%) e Centro-Oeste (8%).
O Painel do Poder tem caráter inédito tanto pela concepção metodológica quanto pela variedade de aplicações que permite. As informações são colhidas trimestralmente, de maneira a apresentar a evolução de tendências do termômetro e de outros índices apurados (para saber mais a respeito, envie uma mensagem para [email protected]). Para isso, algumas perguntas se repetem em todos os levantamentos de campo. O propósito do Painel do Poder é criar uma ferramenta temporal, mas não só uma fotografia no tempo, como as pesquisas de opinião geralmente fazem, mas um conjunto de dados em permanente evolução. Essa metodologia possibilita compreender como as opiniões dos líderes parlamentares mudam de acordo com as diferentes coletas de dados a serem feitas.