Eleito de forma quase unânime para presidir o PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tem ainda uma longa corrida de obstáculos até o seu objetivo final: chegar ao Palácio do Planalto. Há desafios internos, como a posição do partido frente à reforma da Previdência do governo Michel Temer, e externos, como recuperar o espaço perdido para Jair Bolsonaro como contraponto à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E a lista é extensa, de acordo com reportagem de Eduardo Bresciani, de O Globo.
As tarefas dentro da própria casa tucana estão entre as mais urgentes. Alckmin vai liderar essa semana o debate interno sobre a posição da legenda em relação à reforma da Previdência. Apesar de o tema ser uma bandeira programática do partido, metade da bancada ainda resiste a aprovar o projeto — o desejo é entregar cerca de 35 dos 46 votos na Câmara. A divisão sobre o tema ainda é uma sequela da disputa interna que praticamente obrigou o governador a assumir o comando da sigla, quando já eram fortes as trocas de acusações entre os que defendiam o apoio à gestão Temer e os que clamavam pelo desembarque imediato.
— Essa eleição do Alckmin foi um primeiro passo de uma caminhada. Não há porque esconder, nós vivemos uma crise profunda no PSDB. Vamos para 30 anos de existência e nunca houve nada perto disso. É uma crise que não é cosmética ou superficial e que exigirá ainda muito trabalho — afirma o deputado Marcus Pestana, secretário-geral da legenda.
O governador paulista tem como mais um problema interno a insistência do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (AM), na realização de prévias para a escolha do candidato a Presidência.
ENTRE LULA E BOLSONARO
Os obstáculos externos são ainda mais desafiadores. O cenário eleitoral do momento é de uma polarização entre Lula e Bolsonaro. A aposta dos aliados é na política tradicional, com a mobilização da estrutura partidária e a costura de alianças com partidos tradicionais, em busca de tempo de televisão e palanques regionais fortes.
— Há uma análise de que vai haver uma polarização entre o centro e a esquerda. E com uma tendência ao centro, que, no fim das contas, deve eleger um candidato. Essa polarização é temporária, provisória. Partidos aliados tradicionais, com o tempo, vão acabar evoluindo para a nossa candidatura. Acho que essas decisões ocorrerão até junho — avalia o deputado Sílvio Lopes (SP), tesoureiro do PSDB e um dos interlocutores mais próximos de Alckmin.
A tarefa de montar palanques, porém, está longe de ser trivial. Mesmo em São Paulo, Alckmin tem que se equilibrar entre o projeto do seu vice, Márcio França (PSB), e seus correligionários — o prefeito João Dória e o senador José Serra. Em Minas o cenário é ainda mais complexo, com a derrocada de Aécio Neves.
Não bastassem os problemas para os quais pode buscar solução, Alckmin tem ainda uma pendência a ser decidida pela Justiça. Houve menções ao seu nome na delação da Odebrecht e até agora o Superior Tribunal de Justiça (STJ) não decidiu sobre o pedido de abertura de inquérito feito pela Procuradoria-Geral da República.