Parlamentares da base e da oposição criticaram as declarações do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao jornal “Folha de São Paulo”, nesta segunda-feira, de que o governo de Michel Temer terá um candidato próprio à Presidência em 2018, e que este candidato não será o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Tucanos consideraram a fala como uma forma “inábil” e inoportuna de constrangimento e pressão pelo apoio do PSDB à reforma da Previdência, enquanto outros parlamentares da base temem que, ao invés de agregar, Meirelles anule o esforço de Temer para conquistar votos para aprovar a reforma, revela reportagem de Marina Lima e Catarina Alencastro, de O Globo.
— Não ajudam — criticou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).
Para o deputado Efraim Filho (DEM-PB), “não foi o melhor momento”:
— Acredito que foi uma opinião dele vinculada a votação da reforma da Previdência. E não acredito que antecipar esse assunto para agora tenha sido a melhor estratégia. Não ajuda. Não foi o melhor momento — disse o deputado
A entrevista causou um enorme mal estar entre os tucanos, que se reúnem na quarta-feira para decidir se fecham questão na votação da reforma da Previdência. Eles disseram que as declarações podem atrapalhar a decisão:
— Acho que ele (Meirelles) não conhece a sábia expressão popular que ensina ser boa estratégia “ciscar pra dentro” — reagiu o secretário geral do PSDB e braço direito de Alckmin, deputado Silvio Torres (SP).
O deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) classificou a declaração como “totalmente inábil”:
— Ele não é um especialista em política. Acho a declaração totalmente inábil. Ele deveria se concentrar na agenda econômica e das reformas. Contamina a votação da Previdência. É um candidato falando de outro! — completou
O vice-líder do PMDB e provável futuro ministro da articulação política, no lugar de Antônio Imbassahy (PSDB), o deputado Carlos Marum (PMDB-MS) reconhece que, em relação as eleições, é ainda muito prematuro se colocar posições definitivas. Marun acha, contudo que nesse ponto Alckmin, como eventual candidato e futuro presidente do PSDB, possa ajudar a votar a reforma de olho nas alianças futuras em 2018.
— Quanto ao governador Geraldo Alckmin, virtual candidato a Presidência, até reconheço que a posição da bancada paulista do PSDB quando da votação da admissibilidade dessas denúncias contra o presidente, tornou mais distante uma aliança com alguns partidos que apoiam o governo. Todavia, também devemos considerar que em relação a posição fragmentada e realmente majoritária do PSDB, agora comandado por Alckmin na questão da previdência, pode ser um caminho de aproximação. O debate agora não é a questão presidencial, mas o debate agora é a reforma da previdência — avalia Marum.
O líder da minoria no Senado, Humberto Costa (PT-PE), avalia que o governo e Meirelles estão querendo “criar um constrangimento” para o PSDB, que enfrenta um racha interno .
— Estão fazendo isso para colocar o PSDB contra as forças sociais e de mercado. E , em relação a 2018, sinalizam que o PSDB está fora e os espaços estão abertos para novas composições — avalia Humberto Costa.
‘ELE ESTÁ ACHANDO QUE POLÍTICA É UMA CIÊNCIA EXATA’
O líder do PSDB na Câmara, deputado Ricardo Tripoli (SP) afirmou que é “loucura afugentar apoios” num momento em que o Palácio do Planalto concentra esforços para tentar aprovar a reforma da Previdência. O líder tucano avalia que Meirelles, que flerta com a possibilidade de ser o candidato do governo ao Planalto, começa mal nessa corrida.
— Nessa altura, quando a reforma ainda está sendo discutida e o governo aposta tudo em votá-la, tem que puxar pra dentro, não empurrar pra fora. É loucura você afugentar apoios dessa forma. Menosprezar quem está ajudando o governo é muito feio. Meirelles começou mal, não se faz campanha assim — disse Tripoli.
Para Tripoli, Meirelles tem que aprender mais sobre a ciência da política.
— Ele tá achando que política é uma ciência exata, mas não é. Ele tem que aprender mais sobre ciências humanas.
O líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), lembrou que Meirelles foi o deputado mais votado da história política de Goiás, pelo PSDB, em 2002. Mas, após ser eleito, o ex-presidente Lula o convidou para presidir o Banco Central e ele não titubeou em abandonar o partido, mostrando que “não é muito identificado com processos eleitorais”.
— O ministro Meirelles é um grande economista, mas se pudesse lhe fazer uma recomendação, eu lhe diria: se está se colocando como um provável candidato a presidente, não é um bom começo iniciar a campanha falando mal dos outros — disse Paulo Bauer.
O presidente do Instituto Teotônio Vilela (ITV), senador suplente José Aníbal, disse que a “ansiedade” levou Meirelles a falar o que “não devia”.
— Ele ia tão bem! Os políticos dizem que a ansiedade é algo muito presente nos jornalistas. Mas dos políticos também . Meirelles falou o que não devia e vai ouvir o que não queria — comentou.
O deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA) diz que a política de alianças para 2018 só será tratada mais para frente, no âmbito do partido e com o aval do candidato do PSDB. O tucano baiano diz que não acredita que Meirelles será mesmo candidato e nem que tenha condições de influir na política de alianças, pois não tem o controle do PSD.
— A única coisa que eu tenho certeza é que o PSDB terá um candidato competitivo e a política de alianças será tratada no âmbito do partido, com o aval do candidato, lá na frente. Acho muito difícil que o ministro Meirelles seja candidato e que seja capaz de influir nas alianças. Ele não tem controle sobre o PSB.