O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fez um cálculo político estratégico nas últimas semanas e decidiu investir de forma mais incisiva em busca do apoio de Michel Temer e Rodrigo Maia à sua candidatura em 2018.
Espremido pela disputa entre o PMDB do presidente da República e o DEM do chefe da Câmara —que procuram um nome para as eleições do próximo ano—, Meirelles avalia que precisa se consolidar como a opção de centro-direita aclamada por Maia, ao mesmo tempo em que faz a defesa do legado de Temer, revela reportagem de Mariina Dias, da Folha.
A recente influência do presidente da Câmara na redistribuição de cargos no governo mirava a articulação de uma aliança entre PMDB, DEM e partidos do centrão, como PR, PP e PSD, para as eleições de 2018. O objetivo era bem claro: isolar Geraldo Alckmin, provável candidato do PSDB à Presidência.
Filiado ao PSD, Meirelles resolveu se antecipar para encabeçar essa possível chapa e estabeleceu um piso de 5% das intenções de voto nas pesquisas de março como gatilho para se lançar na corrida ao Palácio do Planalto —hoje ele tem 2%.
Caso não chegue a esse patamar no mês em que os ministros que concorrerão às eleições precisam deixar os cargos no governo, Meirelles pode desistir da disputa.
Segundo apurou a Folha, a operação desencadeada pelo ministro já contou com reuniões reservadas com Maia e uma sinalização direta a Temer de sua disposição em ser o candidato governista.
O presidente disse a seus principais assessores que gosta da ideia de Meirelles, visto que o ministro afirmou que, desde já, defenderá o governo do peemedebista.
“Temer se interessa por quem defender seu legado”, argumenta o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral).
No último dia 19, um domingo, Meirelles se reuniu com Maia em sua residência oficial e tratou de um possível apoio do PSD ao DEM nos Estados em que o presidente da Câmara tem mais interesse: Rio de Janeiro e Bahia.
No primeiro, Maia quer eleger seu pai, Cesar Maia, governador, e, no segundo, alçar ACM Neto, prefeito de Salvador e seu principal aliado, ao Palácio Rio Branco.
Sem o compromisso do presidente do PSD, Gilberto Kassab, com seu projeto presidencial —Kassab quer ser vice de José Serra (PSDB) em uma eventual candidatura do tucano ao governo de São Paulo—, Meirelles poderia migrar para o DEM ou até para o PMDB e, assim, liderar a chapa governista.
Maia, por sua vez, também flerta com a ideia de ser ele próprio o candidato de centro-direita em 2018 e, por isso, ainda não se compromete com o ministro.
Em conversas com aliados, o presidente da Câmara diz que o PSD não pode se comprometer com o apoio ao DEM no Rio e na Bahia em troca de um acordo nacional, visto que Kassab tem seus próprios projetos. Acrescenta que, agora, também não pode garantir que Meirelles seja o candidato de seu partido.
Os entusiastas da aliança, porém, dizem que poderia haver um acordo tácito entre ambos até março: quem estivesse melhor nas pesquisas, por exemplo, sairia candidato, garantindo espaço para o outro no eventual governo.
Temer coloca o cenário sob outra perspectiva. Para o presidente, uma “equação possível” é ter Meirelles como candidato e Maia vice.
ENTRAVES
Apesar dos movimentos de articulação política bastante concretos, Meirelles sabe que precisará fazer um grande esforço se quiser alcançar 5% nas pesquisas até março.
Sua imagem está ligada a uma agenda impopular, protagonizada pelo ajuste fiscal e pela reforma da Previdência, as principais bandeiras do governo Temer.
Sem tempo de TV até lá —apenas um programa do PSD será exibido em dezembro com o ministro—, Meirelles quer investir no eleitorado evangélico para crescer nas intenções de voto.
Para engrossar as estratégias de quase pré-campanha, a equipe do ministro encomendou pesquisas sobre o perfil desse eleitorado e, como informou o “Painel”, ele continuará investindo em reuniões com Maia após a votação da Previdência.
A votação da reforma, segundo aliados de Temer, poderia funcionar como alavanca da chapa governista, porque mostraria a liderança de Maia e animaria os números da economia, vitrine para o desempenho de Meirelles.
O governo, porém, ainda está longe de ter o apoio dos 308 deputados necessários para aprovar a medida e a votação na Câmara pode ficar só para o ano que vem.