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‘Mercado exclui mais os negros do que universidade’

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O Dia da Consciência Negra, celebrado nesta segunda-feira, 20, representa um pedido de desculpas ao povo negro. É o que afirma o reitor da Faculdade da Cidadania Zumbi dos Palmares, o advogado, sociólogo, mestre em Administração e doutor em Educação, José Vicente, de 58 anos, segundo Juliana Diógenes, em reportagem para o Estadão.

Para ele, a data é momento de recordar a trajetória do negro no País, mostrar que o “apartheid social” não está resolvido e que o tratamento dado aos negros pelos antepassados não deve sair da memória. “Somos um país de 400 anos de escravidão negra e quatro milhões de escravizados. Nada mais justo, correto e legítimo que tivesse um dia para celebrar, relembrar, cultuar e até se desculpar enquanto país pelo tratamento dado a esse público por tanto tempo”.

Na opinião de Vicente, a adoção da cota racial nas universidades “abriu uma brecha na porta”, mas isoladamente não garante oportunidades iguais a brancos e negros na sociedade, já que o mercado de trabalho ainda é um “paredão” a ser superado.

O sistema de cotas raciais nas universidades é satisfatório?

Se o Brasil quiser resolver esse problema nacional e estruturante que é o apartheid entre negros e brancos, é preciso concluir o conjunto de ações afirmativas que deem conta de levar pluralidade e diversidade para todos os ambientes sociais. Entrar na universidade é um feito para qualquer jovem, mas o que conta é o que se faz quando se sai da universidade. No caso do jovem negro, ele vai bater no outro paredão que é o mercado de trabalho, que exclui tanto ou mais que o mercado educacional. Não conhecemos um presidente negro nas cinco mil maiores empresas do País. Até conseguimos colocar negros nas universidades, mas não conseguimos colocar professores negros nas salas de aula, na pesquisa ou na estrutura de gestão das universidades. Do conjunto de pesquisadores brasileiros, só 1% é negro. Se não ampliarmos as ações afirmativas para além das cotas, vamos ficar com 50% da população, que é negra, fora da disputa. Para crescer, o Brasil precisa dar igualdade de condições para aqueles que sempre foram marginalizados.

Após se tornar reitor, as situações de racismo contra o senhor mudaram?

As situações são permanentes. Continuam intensas e manifestas. O racismo é uma falha de caráter. Pouco importa se o negro é rico, pobre, famoso. Temos quatro mil instituições de ensino superior no País e não conheço um reitor negro. Uma vez, ao chegar em um evento de educação, fui cumprimentado com “Welcome! Nice to meet you” (Bem-vindo! Prazer em conhecê-lo). Acharam que eu era um reitor de universidade americana. Por circunstâncias do meu trabalho, tenho um carro bom. Quando chego dirigindo, acham que sou o motorista. Isso acontece todo dia e toda hora. O racismo está posto. Está firme e forte.

Pesquisa recente do Ibope mostrou que só 2 em cada 10 brasileiros admitem ser preconceituosos.

O brasileiro é racista e pratica o racismo. Ele não reconhece porque entende que só é racista quem usa expressão ou pratica ato com danos visíveis e avassaladores. Mas o racismo se faz com práticas que talvez, no primeiro momento, podem ser entendidas como inofensivas. Um exemplo de prática são as piadas de cunho racista. Ouvimos com frequência em vários ambientes, às vezes até por amigos. Sim, somos racistas. E admitir que somos racistas é indispensável se quisermos pensar em soluções para o problema.

Há quem diga que já não se pode mais “brincar”, que é a vez do “politicamente correto…”

Como o brasileiro acha que não existe racismo e que não há racistas no País, tudo que se faz é em tom de brincadeira, amabilidade, carinho. O brasileiro pensa: “Se houver diferenças, são diferenças sociais. Não é por causa da raça”. Mas só agora, através dessas lutas todas, estamos dizendo que não é bem assim e apontando as manifestações racistas. Estamos dizendo: Estes indicadores sociais, governo, são um apartheid racista. Olha, sociedade, a ausência de negros nos espaços sociais do País é uma dimensão do nosso racismo que talvez não se trate do racismo ofensivo e doloso, mas é um racismo implícito, culposo e danoso.

Qual é o papel das redes sociais hoje na luta contra o racismo?

As redes ajudam. Além de fazer o diagnóstico para que possamos apontar as situações de racismo, é possível nominar quem faz e onde faz esses comentários. As redes dão visibilidade e publicidade à causa porque obriga todos a reverem seus conceitos. Todos estão sob o olhar e veredicto do vizinho, que parece dizer: “Se você for racista, vamos denunciar porque isso é contra as regras e você estará fora do jogo”.

Como reverbera no movimento negro a crescente participação de personalidades como o casal de atores Lázaro Ramos e Taís Araújo no combate ao racismo e nas discussões sobre a questão negra?

Fortalece e qualifica. Permite que essa mudança ocorra com mais velocidade e que possa agregar muito mais pessoas que antes não faziam (questão de conhecer) ou não conheciam mais sobre o tema. Serve para inspirar. Além de inspiradas, as pessoas também ficam estimuladas a engrossar esse caldo ou a se informar mais sobre a questão, fazer a conscientização ao seu entorno e se juntar nesse esforço de indicar um caminho a seguir. (A participação) cria pelo menos uma direção, um caminho para o qual todos devemos caminhar. Inclui também o tema na agenda das prioridades e evita um efeito sanfona, que é aquele efeito assim: quando vira modismo, entra na agenda. Quando deixa de ser modismo, sai da agenda. Este é um tema que precisa permanecer na agenda, tendo as personalidades à frente ou ao lado. Juntas a nós, elas ajudam a manter o tema na agenda, a temperatura elevada para debater. E ajudam também a pressionar os órgãos públicos, mas também privados, para passar a mensagem de que estamos de olho e queremos mudanças.

No ano passado, o senhor esteve na Comissão Especial de Enfrentamento ao Homicídio de Jovens da Câmara dos Deputados e disse que para o plano nacional de combate à violência contra os jovens ser eficaz é preciso que o país “reconheça o racismo como um agente separatório de classes”. De que maneira esse reconhecimento contribui para o combate ao homicídio de jovens?

Em São Paulo, um comandante da Polícia Militar disse recentemente que na periferia a polícia deve atuar de uma forma e nos Jardins deve atuar de outra. Depois, teve outro na mesma linha, em Campinas, que desenhou o perfil do marginal. Havia alguns bairros com nível alto de violência e ele desenhou o perfil dos marginais que deveriam ser abordados. O perfil eram pessoas negras. A estrutura do aparato de segurança tem um viés extremamente classista, que coloca a polícia como muro de contenção da periferia. A Comissão Parlamentar que conduziu essa discussão (na Câmara dos Deputados) está se estruturando para levarmos à OEA (Organização dos Estados Americanos) a denúncia gravíssima do genocídio contra os negros. Está sendo levado à OEA porque não temos meios de combate no Brasil. Nem o Judiciário, nem o Ministério Público, nem o governo tratam com seriedade ou dão qualquer atenção.

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Lixo: Paraíba lidera ranking de maior concentração de macrorresíduos plásticos em praias do país

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O Estado da Paraíba lidera ranking de maior concentração de lixos classificados como macrorresíduos plásticos depositados nas areias das praias do país.

No recorte por estado, Paraná, Piauí e Pernambuco têm a maior quantidade de microplástico nas areias, enquanto Paraíba, Pernambuco e Paraná compõem o pódio dos macrorresíduos plásticos que são resíduos de plástico de maior tamanho, como garrafas, sacos, copos descartáveis, canudos, embalagens e fraldas.

As praias da Paraíba que primeiro aparecem no ranking das mais sujas do Estado e do país são: Formosa (Cabedelo), Fagundes (Lucena), Gramame (Conde), Cardosas (Baía da Traição). As praias de Cabo Branco (João Pessoa), Barra de Camaratuba (Mataraca), Miriri (Rio Tinto), Azul (Pitimbu), dentre outras, aparecem em seguida. (Clique aqui e veja o ranking completo)

No outro extremo, as praias do Rio de Janeiro, Sergipe e Amapá são aquelas com menor concentração de microplásticos, enquanto as do Maranhão, Piauí e Sergipe apresentam menor quantidade de macrorresíduos plásticos.

O levantamento foi realizado pela Sea Shepherd Brasil, em parceria com o Instituto Oceanográfico da USP e patrocinada pela Odontoprev, apresenta os resultados iniciais da Expedição Ondas Limpas, o maior estudo já realizado sobre o perfil dos resíduos marinhos no Brasil. Após 16 meses de expedição, cobrindo mais de 7.000 km da costa e 306 praias, o estudo evidenciou a onipresença do plástico ao longo de todo o litoral do país.

A expedição percorreu 201 municípios brasileiros, do Chuí ao Oiapoque, e analisou uma área equivalente a 22 campos de futebol para mapear os resíduos marinhos. Os resultados mostraram que 100% das praias do Brasil contêm resíduos plásticos, e microplásticos foram encontrados em 97% delas. Do total de resíduos, 91% são plásticos, sendo 61% itens descartáveis, como tampas de garrafa. Entre os macrorresíduos, o maior volume foi de bitucas de cigarro.

Além de trazer à tona o estado crítico da poluição marinha no país, o estudo também revelou que as praias mais isoladas e protegidas, como áreas de proteção integral, estão entre as mais afetadas por resíduos plásticos de uso único, expondo um paradoxo entre as zonas de conservação e a presença massiva de poluição.

Os dados coletados vão além dos números chocantes: oferecem um panorama profundo sobre os tipos de plásticos e resíduos, destacando a importância de políticas públicas mais robustas e ações governamentais urgentes para enfrentar a crise da poluição.

“Pretendemos que os resultados do projeto não somente choquem, mas provoquem a ação, trazendo à tona a necessidade de políticas públicas e de uma mudança na cultura de consumo de plástico no Brasil.”, afirma Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil.

A expedição seguiu uma metodologia científica rigorosa, seguindo o protocolo da UNEP para a coleta de dados, com amostras analisadas em laboratório para identificar a origem dos microplásticos. Um relatório resumido, com diagnósticos e propostas de soluções, já está disponível, e o lançamento de um artigo científico mais detalhado está previsto.

Confira infográfico:

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Paraíba é o 8º Estado do país com menor desigualdade salarial entre mulheres e homens

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A Paraíba é o 8º Estado do país com menor desigualdade salarial entre mulheres e homens. A informação foi divulgada no 2° Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, publicado no dia 18 de setembro pelos Ministérios do Trabalho e Emprego e das Mulheres.

Segundo as informações, a Paraíba alcança um índice de 15,4% quando a questão trata sobre desigualdade salarial entre mulheres e homens. Acre, Ceará e Pernambuco são os com menores desigualdades salariais entre mulheres e homens, com as mulheres ganhando cerca de 10% a menos do que os homens em empresas com 100 ou mais funcionários. Por outro lado, Espírito Santo e Paraná apresentam as maiores disparidades, com mulheres recebendo 29% a menos que os homens.

A pesquisa revelou que, em todo o país, as mulheres ganham, em média, 20,7% a menos que os homens nas 50.692 empresas analisadas. A média salarial nacional é de R$ 4.125,77, com um salário contratual médio de R$ 2.025,27. O estudo abrangeu mais de 18 milhões de vínculos formais em 2023, com uma massa salarial total de R$ 782,99 bilhões.

No Acre e no Ceará as mulheres ganham 9,7% menos do que os homens. Em Pernambuco, a discrepância é de 9,9%. Entretanto, a desigualdade é mais pronunciada para mulheres negras, que enfrentam diferenças salariais ainda maiores em comparação aos homens não negros. No Acre, a diferença é de apenas R$ 14,17 entre mulheres negras e homens não negros, enquanto em Pernambuco, as mulheres negras ganham R$ 1.205,54 a menos do que os homens não negros.

Essa falta de equidade salarial entre mulheres negras e homens não negros é bem acentuada nos dados gerais do país. Elas ganham, em média, R$ 2.745,26 — apenas 50,2% do salário de homens não negros, que chega a R$ 5.464,29.  “As mulheres negras estão concentradas na base da pirâmide, principalmente serviços domésticos, serviços de limpeza, serviços de alimentação, de saúde básica, nos serviços públicos e nas atividades de gerenciamento e direção”, ressalta Paula Montagner, subsecretária de Estatísticas e Estudos do MTE.

A desigualdade é ainda mais acentuada em estados como Espírito Santo e Paraná, onde a média salarial das mulheres é 29% inferior à dos homens. Em Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro, as mulheres ganham entre 27% e 28% a menos que os homens.

No Distrito Federal a média salarial é de R$ 5.735,13, superior à média nacional de R$ 4.125,77, e de estados como São Paulo (R$ 4.992,15), Rio de Janeiro (4.992,15), Minas Gerais (3.616,86) ou Rio Grande do Sul (4.145,98). Portanto, o DF permanece com a mesma diferença salarial entre mulheres negras que ganham R$ 4.205,60 e homens não negros que recebem R$ 7.546,13 em média por mês. A diferença salarial entre mulheres e homens no DF é de 11,1%.

Para acessar todas as informações por estado acesse aqui e selecione a UF a ser pesquisada.

Confira o ranking de índices:

Espírito Santo – 29,2%

Paraná – 29,1%

Santa Catarina – 28,3%

Mato Grosso – 27,7%

Rio de Janeiro – 27,3%

Mato Grosso do Sul – 27,1%

Minas Gerais – 24,9%

Goiás – 22,7%

São Paulo – 21,6%

Rondônia – 21,5%

Rio Grande do Sul – 20,8%

Amazonas – 20,5%

Bahia – 19,7%

Rio Grande do Norte – 19,5%

Tocantins – 18,7%

Roraima – 18,7%

Sergipe – 16%

Maranhão – 15,7%

Pará – 15,6%

Paraíba – 15,4%

Piauí – 12,6%

Amapá – 12,3%

Distrito Federal – 11,1%

Alagoas – 10,7%

Pernambuco – 9,9%

Acre – 9,7%

Ceará – 9,7%

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Ministério descarta crise energética em 2024 e implantação do horário de verão segue em estudo

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O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, descartou a possibilidade de crise energética este ano. Com isso, implementação de horário de verão deverá ser avaliado novamente pelo governo.

A afirmação ocorreu durante o 296º Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), realizado nesta quinta-feira (19/9), no Rio de Janeiro, em reunião extraordinária. O evento reúne os principais órgãos do setor elétrico nacional.

“Não temos chance de crise energética este ano, mas devemos cuidar para que não tenhamos nenhum evento pontual em especial nos horários de ponta. A nossa missão é equilibrar segurança energética com modicidade tarifária, ou seja, menores tarifas para o consumidor. Se energia é vida, energia mais barata é sinônimo de renda, emprego e desenvolvimento nacional”, disse Silveira.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou estudos que apontam para os impactos positivos para o setor elétrico com a adoção do horário de verão. De acordo com os representantes da entidade, a implementação geraria economia de até 2,5 GW de despacho termlétrico no horário de ponta, o que reduziria custos e contribuiria para a eficiência do Sistema Interligado Nacional (SIN), ampliando a capacidade de atendimento das 18h às 21h.

O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) avalia que o ano de 2024 retomará, nos próximos dias, o volume normal de chuvas.

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