O presidente da República, Michel Temer, admitiu nesta segunda-feira,6, pela primeira vez, a possibilidade de uma derrota do governo ao tentar aprovar a reforma da Previdência. Temer reconheceu que a principal reforma do País pode nem sequer ser votada em seu governo e, resignado, fez um apelo para que os parlamentares tentem votar, se não o conjunto do pacote, pelo menos alguns pontos propostos pelo Planalto, durante reunião no palácio com ministros e deputados de onze partidos da base governista, entre eles líderes de bancada, segundo reportagem de Carla Araújo e Felipe Frazão, do Estadão.
Em outra linha, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sustentou que, mesmo faltando na prática apenas quatro semanas para o fim do ano legislativo, é possível concluir a votação da reforma até dezembro. Para isso, reforçou, basta o governo reorganizar a base.
Maia cobrou que o Palácio do Planalto “repactue” sua base aliada para que a Casa possa votar em plenário a reforma. E lembrou que os deputados saíram “machucados”, ou seja, desgastados da votação das duas denúncias contra o presidente Michel Temer na Casa.
“Não adianta culpar A, B ou C. O governo precisa urgentemente reorganizar sua base”, disse.
Temer afirmou que um eventual fracasso em aprovar a reforma não significa que seu governo “não deu certo”. “A reforma da Previdência, não é minha, não é pessoal, mas é do governo compartilhado. Na verdade, se em um dado momento a sociedade não quer a reforma da Previdência, a mídia não quer a reforma da Previdência e a combate e, naturalmente, o parlamento que ecoa as vozes da sociedade também não quiser aprová-la, paciência”, discursou Temer ao abrir a reunião com deputados.
“Muitos pretendem derrotá-la supondo que derrotando-a, derrota o governo. Então isto eu quero deixar claro que não é derrota eventual, a não votação da Previdência que inviabiliza o governo. O governo já se fez.”
O presidente afirmou que continuará empenhado em aprovar a reforma da previdência, reconheceu que ela deve ser menor que a prevista inicialmente e numa espécie “de vacina” rechaçou a tese de que seu governo sofrerá uma derrota caso ela não avance.
“A reforma da Previdência é, digamos assim, a continuação importante, fundamental para, digamos, uma espécie de fecho das reformas que nós estamos fazendo. Eu quero dizer que eu continuarei me empenhando nela, vou trabalhar muito por ela.”
Eixo central. No Planalto, auxiliares de Temer reconhecem que a idade mínima é o eixo central e mínimo para que a reforma tenha algum efeito e mantenha do discurso de vitória do governo. No entanto, até então apenas parlamentares da base admitiam publicamente uma redução da proposta original. O presidente não tocava no assunto tão claramente. A equipe econômica forçava a votação e pressionava publicamente, enquanto ministros do entorno de Temer, como Eliseu Padilha (Casa Civil), defendiam a “reforma possível”.
Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) disse que a base aliada não tem “necessariamente” que focar os esforços na reforma da Previdência. “Se ela não for possível porque não tem o número suficiente, podemos aprovar outras reformas que não necessitem de quórum qualificado”, disse Mansur. Para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma da Previdência, o governo precisaria de 308 votos em dois turnos.
Personificação. Ao exaltar que seu governo tem dado certo até hoje, Temer citou a derrubada das duas denúncias contra ele pela Procuradoria-Geral da república e falou em “gratidão” aos parlamentares pelo apoio.
O presidente disse ainda que superou as adversidades e é um governo que deu certo “até hoje, que não falhou” e que “gestos inadequados praticados por algumas figuras acabaram atrasando essa reforma”. “Se não fosse aquela coisa desagradável que aconteceu meses atrás já teríamos aprovado”, disse.
Outros dados. Temer também citou a simplificação tributária, disse que pode haver redução de impostos e que se até o final do ano conseguir levar também a simplificação tributária adiante o saldo de dados positivos será ainda maior.
Como tem feito em seus discursos, Temer abriu sua fala aos líderes munido de anotações com uma série de dados econômicos. Destacou a redução dos juros e da inflação e destacou que a previsão é que a Selic encerre 2017 a 7% ao ano. Ele lembrou que apanhou o Brasil em uma recessão e que superada essa fase o “País voltou”.
Temer disse que fez centenas de medidas em apenas 18 meses e que há muito por fazer até o fim do seu mandato. O presidente destacou que é importante verbalizars os dados econômicos, citou safra agrícola, a produção de veículos, as exportações e também a retomada do emprego. “Nós estamos combatendo o desemprego”, frisou.
O presidente citou ainda os índices recordes da Bovespa e afirmou que tudo isso mostra a confiança no Brasil. “Há uma recuperação nítida da economia”, disse.
Segundo ele, há uma crença muito grande lá fora no Brasil. “há uma ideia de que as aplicações são rentáveis. Sem embargo das dificuldades e das infâmias contra o governo, continuamos trabalhando”, destacou. “Próximos 14 meses ainda serão de muita prosperidade”, prometeu.