Partidos da base aliada de Michel Temer querem boicotar uma reunião marcada com o presidente nesta segunda-feira (6), em um movimento para exigir a redistribuição de cargos no governo federal.
Ao menos dois partidos do chamado centrão da Câmara já avisaram ao Palácio do Planalto que não estarão presentes no encontro, marcado para 18h. Os líderes Arthur Lira (PP-AL) e Jovair Arantes (PTB-GO) deram o recado ao governo nesta manhã.
As siglas governistas pressionam Temer a antecipar a reforma ministerial prevista para abril. Eles cobram a redistribuição de ministérios e outros órgãos federais para recompensar as bancadas que ajudaram a derrubar as duas denúncias apresentadas contra o presidente, revela reportagem de Bruno Boghossian, da Folha.
O espaço ocupado pelo PSDB é o alvo de maior cobiça. Menos de metade da bancada tucana votou a favor de Temer na segunda denúncia, mas o presidente insiste em manter o partido à frente de quatro ministérios –entre eles o Ministério das Cidades, com Orçamento robusto e ações pulverizadas em municípios por todo o país, e a Secretaria de Governo, responsável pela distribuição de emendas parlamentares e cargos federais.
Esses partidos –principalmente o centrão– ameaçam travar a pauta de projetos de interesse do governo no Congresso caso essa reforma não seja feita nas próximas semanas.
Há sete medidas provisórias na pauta da Câmara que podem perder a validade caso o governo não consiga aprová-las nas próximas semanas. Entre elas, está o pacote que regulamenta o setor de mineração, considerado prioritário pelo Planalto.
Líderes do centrão também afirmam que podem frustrar os esforços do governo para retomar as discussões da reforma da Previdência caso os pedidos de redistribuição de espaços não sejam atendidos.
O líder do PSD, Marcos Montes (MG), não vai aderir ao boicote, mas pretende dizer a Temer que não há apoio suficiente na bancada de seu partido para votar as mudanças nas regras de aposentadoria. “Não existe essa possibilidade. É melhor esquecer esse assunto”, afirmou.
Temer apresenta resistências à ideia de promover trocas em seu primeiro escalão de auxiliares ainda este ano. Ele acredita que essa redistribuição poderia causar novos atritos em um momento em que seu governo ainda recupera fôlego, após vencer duas denúncias da Procuradoria-Geral da República em três meses.
Por isso, o presidente mantém o plano de fazer uma mudança profunda na composição da Esplanada apenas no prazo de desincompatibilização para as eleições do ano que vem. Dezessete de seus 28 ministros devem deixar seus cargos até o dia 7 de abril, a seis meses do primeiro turno de 2018.
REAPROXIMAÇÃO
Temer convidou os líderes da base aliada na Câmara para discutir uma pauta comum de projetos que podem ser votados nos próximos meses. O objetivo do presidente é ampliar o protagonismo dos deputados na construção dessa agenda para tentar reconquistar o apoio dos partidos a seu governo.
Em um gesto de reaproximação com os deputados, o Palácio do Planalto vai apoiar projetos de iniciativa de parlamentares para as áreas da saúde e da segurança pública.
Com esse movimento, o governo espera recuperar o apoio das siglas que compõem sua base de sustentação. O Planalto observou a dispersão das bancadas desses partidos na Câmara na votação da segunda denúncia contra Temer, no fim de outubro, quando apenas 251 dos 513 deputados se posicionaram a favor do presidente.
Temer busca também distensionar sua relação com Rodrigo Maia. O presidente da Câmara entrou em choque com o Planalto em diversas ocasiões nos últimos meses e criticou, por exemplo, o excesso de medidas provisórias editadas pelo governo, sem negociação com o Congresso.