Os reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste, que concentram as hidrelétricas mais importantes do país, fecharam o mês de outubro com armazenamento médio de água de 17,68%, o mais baixo para o mês desde 2000, quando começou a série histórica do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Além disso, outubro de 2017 foi o terceiro pior mês de toda a série histórica para o nível de água das represas das hidrelétricas dessas duas regiões, informa reportagem de Laís Lis, do G1.
Essa situação é reflexo da chuva abaixo do normal. Por causa disso, os reservatórios têm registrado quedas consecutivas desde maio de 2017, quando estavam em 43,32%. Em setembro, eles estavam em 24,21%, fechando outubro em 17,71%.
As usinas do Nordeste também apresentam índices críticos. Naquela região, o armazenamento médio ficou em 5,95% no final de outubro, terceiro pior de toda a série histórica. O pior mês para os reservatórios do Nordeste foi novembro de 2015, quando eles ficaram em 4,47%, seguido por dezembro de 2015, com 4,89%.
Termelétricas
Apesar desse quadro, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), órgão que reúne autoridades do governo ligadas ao setor, decidiu nesta quarta-feira (1º) não autorizar o acionamento de termelétricas fora da ordem de mérito. Isso permitiria o funcionamento de usinas mais caras, o que pouparia mais água dos reservatórios das hidrelétricas.
Atualmente, o acionamento de térmicas é feito pelo preço, das mais baratas para as mais caras, à medida que o custo da energia aumenta no país. Se o governo decidir acionar térmicas fora da ordem de mérito, entram em operação as usinas com mais capacidade de geração, independentemente do preço.
Outro reflexo do acionamento das térmicas mais caras virá nas contas de luz. O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, já admitiu que o consumidor vai sentir no bolso se essas usinas mais caras forem acionadas.
O CMSE vem fazendo reuniões semanais para analisar o cenário do setor elétrico. Neste mês de novembro, começa o período de chuvas mais intensas no Sudeste e no Centro-Oeste, que segue até abril.
Se as chuvas voltarem e forem suficientes para elevar o nível dos reservatórios das hidrelétricas, não apenas o acionamento das térmicas mais caras poderá ser descartado como a tarifa de energia poderá cair um pouco, devido ao reflexo nas bandeiras tarifárias.
Para Victor Kodja, presidente da plataforma eletrônica para negociações de contratos de energia elétrica BBCE, a decisão do governo de esperar mais para acionar as térmicas mais caras é acertada.
“Esse tipo de decisão [acionar térmicas fora da ordem de mérito] já causou muita controvérsia no passado. É uma boa estratégia esperar um pouco mais para tomar essa decisão, porque encareceria demais a operação do sistema”, disse.
Bandeira vermelha
Na semana passada, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que a bandeira tarifária de novembro também será vermelha em patamar 2 e que o valor da taxa extra cobrada nas contas de luz já virá reajustado para R$ 5 a cada 100 kWh de energia consumidos.
A bandeira vermelha patamar 2 já vigorou durante o mês de outubro, mas com valor menor: R$ 3,50 a cada 100 kWh consumidos. O aumento, de 42,8%, foi aprovado na semana passada pela Aneel.
A justificativa para o reajuste foi que a falta de chuvas e a situação delicada dos reservatórios das hidrelétricas vêm exigindo o uso maior de energia das termelétricas (usinas que geram eletricidade mais cara), mas o fundo formado pelos recursos das bandeiras tarifárias não vinha sendo suficiente para cobrir o custo extra do setor
Segundo a Aneel, “não houve evolução na situação dos reservatórios das usinas hidrelétricas em relação ao mês anterior e, ainda que não haja risco de desabastecimento de energia elétrica, é preciso reforçar as ações relacionadas ao uso consciente e combate ao desperdício”.
O sistema de bandeiras tarifárias foi criado para sinalizar aos consumidores o custo da produção de energia no país. O objetivo é permitir que os usuários adotem medidas de economia para evitar que suas contas de luz fiquem mais caras nos momentos em que esse custo está em alta.
Com os reservatórios das usinas hidrelétricas cada vez mais baixos, por causa da estiagem, o sistema elétrico depende cada vez mais de usinas térmicas, que geram energia mais cara pois funcionam por meio da queima de combustíveis.
A cor verde indica que o custo é baixo. A amarela, que ele subiu um pouco. A vermelha, patamar 1, que está alto. E a vermelha, patamar 2, que está em seu nível máximo.