O ministro da Justiça, Torquato Jardim, acusou políticos e comandantes de batalhões de se associarem ao crime organizado no Rio de Janeiro e disse que “a milícia tomou conta do narcotráfico”. No cargo há apenas cinco meses, Torquato também afirmou que o governador do Estado, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e o secretário de Segurança Pública, Roberto Sá, não têm controle sobre a Polícia Militar.
“Todo mundo sabe que o comando da PM no Rio é acertado com deputado estadual e o crime organizado”, disse ele, em conversa com jornalistas, sem citar nomes de possíveis envolvidos. “Comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio.”
Segundo matéria de Vera Rosa, do Estadão, para Torquato, o assassinato do tenente-coronel Luiz Gustavo Lima Teixeira, na quinta-feira, 26, foi uma retaliação. Comandante do 3° Batalhão da Polícia Militar do Rio, Teixeira, de 48 anos, foi executado a tiros no Méier, na zona norte. Foi o 111º policial morto neste ano no Estado.
“Nada me tira da cabeça de que aquilo foi um acerto de contas”, afirmou o ministro da Justiça. Na tentativa de comprovar sua suspeita, Torquato disse ter chamado a atenção sobre detalhes do crime em recente encontro com Pezão e Sá. “Ninguém assalta dando dezenas de tiros para cima de um coronel à paisana, num carro descaracterizado. O motorista era um sargento da confiança dele.”
Teixeira, na realidade, vestia farda. Quem estava à paisana era o cabo Nei Filho, que dirigia o carro. A versão oficial, divulgada até agora, é a de que houve reação a uma tentativa de assalto iniciada por quatro pessoas. A polícia prendeu um suspeito de envolvimento no assassinato.
Torquato disse ter certeza de que a situação no Rio vai melhorar com o apoio do governo federal e uma “interface” com as Forças Armadas. “Podem me cobrar no fim de 2018”, comentou. “Mas a virada da curva ficará para 2019, com outro presidente e outro governador. Com o atual governo do Rio não será possível. Já tivemos ali conversas duríssimas. Não tem comando.”
No seu diagnóstico, a campanha eleitoral de 2018 será dominada por dois grandes temas: economia e segurança pública. “A segurança já passou a saúde”, observou Torquato.
Diretoria na PF
À vontade ao falar sobre os desafios da pasta, o titular da Justiça anunciou que a Polícia Federal terá agora uma Diretoria de Tecnologia para também cuidar da segurança e aprimorar o trabalho de inteligência, especialmente nas fronteiras. “Sem impacto no orçamento”, disse ele, ao lembrar, por exemplo, que “drones” são muito caros.
Questionado sobre quem será o escolhido para essa nova cadeira, Torquato não deu pistas. “O perfil será o mais técnico possível, mas ainda está em análise. Sairá dos quadros da Polícia Federal”, assegurou.
Na lista dos planos do Ministério da Justiça está também a criação de uma Força Nacional de Segurança Pública em caráter permanente. O contingente, na visão de Torquato, teria de aumentar dos atuais 2.600 homens para algo em torno de 25 mil, em todo o País.
“Tenho sustentado a necessidade desse novo modelo, a custo zero para os Estados, e o presidente (Michel) Temer é simpático à ideia”, contou. “Precisamos ter uma força que aja como uma espécie de fuzileiros navais. Que esteja preparada para cruzar a caatinga com uma mochila de 40 quilos nas costas e também para atravessar a Baía da Guanabara a nado.”
Pezão
Em nota divulgada nesta terça-feira, Pezão afirmou que o governo do Rio e o comando da Polícia Militar não negociam com criminosos. “O comandante da PM, coronel Wolney Dias, é um profissional íntegro”, destacou ele.
O governador também rebateu o ministro da Justiça ao dizer que ele nunca o procurou para tratar desses temas. Pezão argumentou que “as escolhas de comandos de batalhões e delegacias fluminenses são decisões técnicas” e garantiu “jamais” ter recebido pedidos de deputados para esses cargos.