Menos de 24 horas depois de receber o apoio em peso dos senadores tucanos pela retomada do seu mandato, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) recebeu um ultimato de integrantes da direção de seu partido para que renuncie de forma definitiva à presidência da sigla. O presidente interino do PSDB, senador Tasso Jeiressati (CE), cobrou, na manhã desta quarta-feira, a renúncia de Aécio, alegando que falta ao mineiro condições até para continuar licenciado. Entretanto, à noite, durante reunião da bancada, Aécio pediu mais tempo para tomar uma decisão, informa O Globo.
O entendimento majoritário na cúpula do PSDB é que a permanência de Aécio no comando da legenda, mesmo que licenciado, “arrebenta” com a imagem do partido, já arranhada com a votação pela anulação da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar do tempo pedido por Aécio, o sentimento na bancada é de que o senador mineiro sabe que não tem condições de continuar e vai sair, mas tem de acertar com seus aliados governistas o que fazer.
Aécio argumentou que estava voltando ao mandato nesta quarta e precisava de mais tempo. Interlocutores do mineiro reclamaram que o dia do seu retorno não era o melhor momento para o ultimato.
— Foi dado ao senador Aécio o tempo para a decisão que tem que tomar. Agora, a responsabilidade é dele sobre o que vai fazer — disse Tasso após a reunião.
Aécio saiu mais cedo da reunião, bastante contrariado, segundo um dos participantes. Como ainda é o presidente licenciado, só ele pode tomar a decisão de renunciar.
— O senador Aécio tem plena consciência que vivemos uma crise, que o partido enfrenta uma crise. Vivemos um momento muito delicado, que exige uma decisão definitiva. Não podemos mais ter uma situação provisória, mesmo que só até dezembro, quando acontece a convenção nacional. Com certeza até a semana que vem ele tomará essa decisão — disse Tasso.
No fim da reunião, alguns senadores ponderaram que Aécio passou momentos difíceis e precisava de tempo para tomar a decisão, para fazer “uma reflexão”.
— Se fosse eu, Roberto Rocha, me afastaria não só da presidência do partido, mas também do mandato por um mês, para me dedicar exclusivamente a minha defesa — disse o senador Roberto Rocha (PSDB-MA).
No mesmo tom de Tasso, o vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), defendeu que Aécio formalize seu afastamento da direção do partido.
— Há um consenso na bancada do Senado e a maioria da Câmara dos Deputados com esse pensamento — disse Cássio Cunha Lima, sobre o afastamento de Aécio.
Aécio tem, hoje, o apoio dos governistas para continuar no comando do . Se decidir renunciar, ele pode manter a interinidade de Tasso Jereissatti ou indicar um outro vice-presidente interino até a convenção nacional, marcada para 9 de dezembro, quando será definido seu sucessor.
TASSO: PSDB NÃO TEM COMPROMISSO DE SALVAR TEMER
Em nota, Tasso explicou que a votação do Senado que devolveu o mandato a Aécio se deu apenas para atender um pedido do senador mineiro para que tivesse direito de se defender, já que não é réu no STF. No entanto, Tasso reafirmou, de forma categórica, que o PSDB não tem nenhum compromisso com o PMDB para salvar o presidente Michel Temer na denúncia que enfrenta na Câmara dos Deputados.
— O PSDB não tem nenhum compromisso com o PMDB para salvar o presidente Temer ou quem quer que seja. Zero! — disse Tasso.
Tasso defendeu ainda que o processo contra Aécio no Conselho de Ética do Senado, tenha prosseguimento, pois será o ambiente propício para se defender das denúncias de recebimento de propina de R$2 milhões de Joesley Batista.
— Acho que é importante que tenha ( o processo contra Aécio) o Conselho sim. É o foro adequado para ele se defender — disse Tasso.
Enquanto Aécio estava afastado do mandato, o processo no Conselho de Ética por quebra de decoro, apresentada pelo PT, ficou suspenso. Agora, deverá ser retomado. No momento, encontra-se sobre avaliação na assessoria jurídica da Casa. Depois, irá ao presidente do Conselho, João Alberto (PMDB-MA), para ele decidir se abre procedimento ou arquiva a representação.